Em série

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Aqui há uns tempos atrás começaram a aparecer na TV séries de grande qualidade, rivalizando com o cinema americano da época e mesmo ultrapassando-o. Uma série tem mais tempo para contar uma história, para desenvolver personagens e com o investimento feito na altura, a qualidade das produções aumentou muito e a televisão ganhou um destaque que até então não merecera.

Muito se falou disso e muitas séries foram produzidas.

As pessoas sempre viram séries na TV; quando eu era miúdo víamos o Dempsey & Makepeace, o Devlin Connection, o A-Team (muito antes da TVI existir e passar a versão dobrada), o Blue Thunder, a Galactica, o Space:1999, o Mike Hammer e até mesmo, com desconfiança, o Buck Rogers ou o Knight Rider.

Mas das anteriores destacaria apenas Dempsey & Makepeace, uma série britânica, muito 80s, mas que fica na memória – enquanto as outras são, basicamente, lixo pobrezinhas (já percebi que a palavra lixo estava a atropelar sensibilidades e eu cá também cresci nos anos 80 a ver todas estas séries com muito gozo).

Portanto não admira que, quando surgiram coisas como o X-Files, E.R. ou The Sopranos as pessoas tenham pensado que algo mudara na televisão.

Mas como em tudo, nesta nossa magnífica humanidade, esta história já tresanda. Agora, gente que é gente segue umas 20 séries de TV, conhece outras 20 que planeia ver a seguir e é especialista em todas. O sentido crítico, esse, esvai-se lentamente e, de repente, tudo o que trouxer a etiqueta de “série de TV”, é automaticamente bom.

Eu gosto de ver algumas séries de TV actuais. Gosto do Dexter, House, do Californication e no Nip/Tuck, por exemplo. Também gosto do Big Bang Theory ou do How I Met Your Mother (que é genial), mas isso são sitcoms e sitcoms sempre existiram – gostei de ver o All in the Family na altura em que passou cá e sou fã de Seinfeld.

Mas então e o resto?

Uma das séries que reúne mais consenso é o Lost. O Lost é de um senhor chamado JJ Abrams que sofre de um complexo de génio que é uma coisa doida. É mais ou menos assim: eu sou tão bom que posso fazer o que quiser que vocês mamam. E assim é: o Lost encadeia quase eventos uns atrás dos outros, quase acontecimentos e quase revelações, episódio atrás de episódio  e deixa o espectador pendurado no que deveria ser suspense mas que acaba apenas por se transformar em tédio.

Segui o Lost durante muito tempo, provavelmente tempo demais e a sensação com que fiquei foi que as seasons 2 e 3 inteiras eram dispensáveis. E há mais… season 5, season 6… Mas já não tenho pachorra. É o síndrome da série de TV: enquanto dá, vai-se fazendo e para se fazer não se pode mudar nada muito significativamente. Ou seja, na verdade, não convém que aconteça muita coisa.

O Lost podia ser uma grande série de mistério com pós de sobrenatural, feita em duas seasons verdadeiramente épicas. Assim… é uma seca.

Segue-se o Prison Break.

Que grande ideia era o Prison Break! Um gajo tatua montes de pistas no corpo inteiro e faz-se prender para, de dentro da prisão, libertar o irmão inocentemente condenado à morte. Excelente. Para uma season.

Vai na quarta. Vale a pena dizer mais? Lembro-me vagamente que fiz um esforço quase doloroso para ver a segunda season, mas… por favor, se fugiram da prisão no fim da primeira podiam perfeitamente ter acabado com aquilo ali.

Um dos monstros sagrados é o Battlestar Galactica. A série que mudou as séries de ficção científica. Quando vi o piloto fiquei boquiaberto: nada a ver, claro, com o sorrisinho ao lado e o cabelinho à tijela da série original – para quem gosta de FC era algo realmente impressionante. Uma ficção realista, se assim se pode chamar, com grandes batalhas espaciais e uma história que parecia complexa e profunda.

Afinal era só chata. Episódios atrás de episódios de eleições galácticas e a dada altura, o surgimento de uma nova religião que deu azo a que um episódio fosse quase inteiramente dedicado a um gajo a dar missa – não, obrigado. Se não sigo a campanha eleitoral e não vou à igreja, para que hei-de perder o meu tempo com isso numa série de televisão?

Ainda tenho para ali a última season para ver. Da última vez que tentei, sofri ao longo de um ou dois longos e chatos episódios; ao que me dizem, o final vale a pena… não sei, se calhar um dia destes vejo só o último episódio, para me certificar.

Heroes…

A primeira season foi gira. Mas eu já ando nisto há uns anos. Desde puto que leio super-heróis, não é lá porque agora decidiram inventar uma série de TV sobre o assunto que eu vou ficar siderado.

Mas gostei da história e dos personagens e vi a primeira season com agrado. Depois comecei a ver a segunda e percebi que estava perante a primeira season mas com mais personagens e mais efeitos especiais e a mesma técnica de não passar da cepa torta para prolongar a série ad nauseam. Desisti ao fim de dois episódios. Consta que vai na season 4…

E podia ir por aí fora, mas acho que já bati em ceguinhos que chegue. Em suma: eu gosto de me sentar no sofá à noite e ver um bom episódio do Dexter, mas às vezes prefiro jogar, conversar, ouvir música, escrever, ver sites, tocar guitarra ou mesmo não fazer a ponta de um corno. E se há séries muito boas, também há séries medíocres – não é por haver séries boas que de repente todas são boas.

E além de séries boas e séries medíocres, também há séries que começam bem mas que depois mais valia estarem quietos.

Acima de tudo, é bom é que cada um se entretenha com o que gosta e eu, por exemplo, gosto do Spongebob Squarepants!

PS – Este post é dedicado ao Huguinho.

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18 comentários a “Em série”

  1. Benjamim says:

    O que não gosto nas series realmente são as “season”, bom post.

    Dexter/Californication (as que mais gostei até a data) chegou ao fim muito bem na 1ª season o resto é encher chouriços. Por isso já não vi mais.

    Depois de muito google lá encontrei um link para o “battlestar galactica” hoje vi o 4 episódio e estou a gostar. Entretanto quero ver o novo “V”.

  2. Bino says:

    Perfeitamente de acordo em relação a “Lost”. Na juventude curti muito o “Espaço 1999” e “Star trek”. Mais tarde, “Manchild” e o “Pretender”. Actualmente é “Shameless” e “NYPD”. Sinceramente não acompanho muito as séries da Fox, por mim o que é bom passa quase tudo é na sic radical e mai nada.

  3. Ana Nihil says:

    Como concordo contigo…

    Outro problema é algum deconhecimento de outras fontes que impede que haja uma avaliação séria e justa do quese está a ver, mas pensar dá trabalho…

    O prison break nunca vi, vi 10 minutos de um episódio inicial e adivinhei o subplot e isso foi o suficiente para me fazer barf, não ajudou depois alguém me ter tentado explicar que aquilo era como o shawhank redemption, que está no meu top 5 de filmes e chocou-me um bocado acharem que uma série da treta tinha alguma coisa a ver com um filme majestoso (para mim anyway)

    o lost desisti no início da segunda season, comecei a ver porque tinha um dos gajos do millenium e tive curiosidade, não segui religiosamente a primeira season porque os flashbacks no início dos episódios reviam os anteriores e a constante mudança de horário também não ajudava.

    Claro que com a 2ª season haja paciência, 20 minutos de recaps dos episódios passados, e as pessoas ainda acham que estão a ver episódios novos. A minha memória funciona não preciso de estar sempre a ver resumos.

    Os heroes até dói a falta de originalidade (basta dizer que o realizador numa utra série que tentou impingir tinha a mesma tagline do save somebody, save the world), estão a roubar montes de fontes e só quem não as conhece é que fica maravilhado com plots e twists velhinhos, velhinhos…quando estive em casa do meus pais tentei ver algun dos novos e não vale a pena, same shit different day…adorei o episódio em que roubam o millennium desalmadamente…para mim não dá…

    acho que o dexter tem vindo a subir em termos de qualidade, mas há muito tempo que não tenho o momento millennium e acho que nunca mais o vou voltar a ter…

    no geral as coisas não são fascinantes, algumas até são competentes com casts fabulosos que percebem que uma série vive também da interacção…

    Como não tenho grande tempo para ver televisão acabo sempre por eventualmente ver as seasons todas já completas, mas começa a ser difícil pensar no que quero mesmo ver ou vale a pena ver, visto que não tenho necessidades de ver por ver para dizer que vi…acabo por optar por rever cenas antigas…

    The times are dark…como as pessoas não querem pensar e have short attention spans, acho que isso também afecta o que é produzido…

    Jocas, ana

  4. kunamis says:

    Bom post :-) … De acordo em 99%. O 1% que falta é para tirar o Space 1999 do “caixote de lixo”… Continuo a achar que era uma belíssima série para a época, muito superior ao Star Trek e Galactica original. Outra boa série de ficção científica , para quem se recorda, era o “V”. Cumprimentos

  5. Huuummm… E tu sabes (se não sabes ficas a saber) que tirando aquela vez que andaste para aqui com divagações acerca dos efeitos de dar um mergulho na praia depois de um bom almoço, geralmente concordo contigo mas desta feita… A coisa começou logo mal quando te referes à Galactica original como “basicamente, lixo”.

    Que vista hoje seja risível, percebo perfeitamente mas, tal como Star Trek na altura certa, também a Galactica transmitia uma (ou várias) mensagens e tentava difundir valores que, concordemos ou não com eles, não deixam para muitos de ser válidos.

    Referes gostar de Nip/Tuck certo? Não gosto. Nada. Não encontro nada que aproveite naquela série. Acho um completo desperdício do meu tempo ficar frente à tv a olhar para aquele desfile de cenas irreais. Mesmo sendo eu um tipo que gosta de passar tempo frente à tv a ver cenas irreais (sim, gosto de Lost e de Heroes e de Torchwood e por vezes de outras séries ainda mais estranhas). Mas não aquelas cenas do Nip/Tuck. Nada mesmo. No entanto, não acho que seja um lixo. Haverá certamente, para alguns interesses, material que se aproveite e como tal, haverá quem goste (ainda que admita que há quem goste de lixo mas, tomando o teu gosto por exemplo, acredito que não é este o caso).

    A coisa piorou quando te referiste à nova Galactica.

    “Uma ficção realista, se assim se pode chamar, com grandes batalhas espaciais e uma história que parecia complexa e profunda.” escreves tu. Sim, é complexa e bastante profunda. É claro que, se os teus interesses não passarem por religiões ou eleições essa complexidade pode facilmente parecer-te chata. Pouco a fazer. Mas o problema está, não na série mas sim nos teus interesses.

    Eu não sigo a campanha eleitoral e não vou à igreja (bem, não tenho nada contra nem uma coisa nem outra mas…) e vi cada episódio com o interesse de quem está a acompanhar uma história incrível, o relato de características humanas tantas vezes esquecidas por a moral e bons costumes as empurrarem lá para o armário do fundo…

    Dúvidas, certezas, manobras de bastidores (juntamente com Babylon 5 e West Wing, Galactica ficará na história como uma série politica) sejam eles do mundo físico ou pura e simplesmente do mundo espiritual.

    Chata? Não.

    E pronto. Já escrevi. Era só isto e mais nada. Hoje apeteceu-me.

    • Pedro, espero que não tenhas levado o post assim tão a sério como parece. Não desprezo nenhuma das séries que mencionei e muito menos as pessoas que as vêem – nem acho que tenha dito nada disso.

      Aliás, eu *vejo* séries – nomeadamente algumas destas, eu até termino a dizer “Acima de tudo, é bom é que cada um se entretenha com o que gosta”. Certo?

      Aceito perfeitamente que se goste – muito – de algumas coisas e isso é inteiramente pessoal; por essa razão, acho um pouco injusto quando dizes que há um problema com os meus interesses…

      O meu post é sobretutudo a minha visão de uma certa ‘loucura’ que se gerou em torno das séries de tv, como se, de repente, séries de tv fossem perfeitas e incriticáveis.

      E portanto eu, como sou um tipo assim, decidi que estava na altura de ver o outro lado.

      E não penses que não vi cada episódio da Galactica original com um gozo inigualável e que não sonhei ser o Starbuck e que não re-encenei vezes sem conta a cena em que o Apollo saca do seu laser e destrói o Cylon naquele episódio estilo western.

  6. sap says:

    Dizer mal de BSG até devia ser crime!
    Acho que bate também um pouco nos gostos sim, quem não ache grande piada, vai ser muito mais do mesmo e sem interesse.
    De resto, acho que muitas séries perdem por não se verem de seguida, como um filme – como p.e. Lost.

    Falando por mim, aquilo que me acontece é mais, okay, muitas não são nenhumas obras primas, mas entretêm, divertem e pronto, cumprem o objectivo. Podiam ter menos uns quantos episódios, mas desde que cumpram o objectivo..! ;)

    Depois claro, há as mais ‘de culto’ (pessoal), que essas sim, valem a pena sentar confortavelmente e ver com atenção.

    E ah, prison break já acabou. ;) é pena realmente, a primeira season esteve fenomenal. depois pronto, veio o sucesso e toca de encher chouriços!

  7. Bintxa says:

    The Shield! The Shield!

  8. HCarvalho says:

    Devias ver a 4ª temporada de BSG, os últimos 10 episódios são muito bons. Além disso a série tem um final feliz, depois de quatro temporadas muito negras e pessimistas foi bom ver a série acabar com sinais de optimismo para a maioria das personagens.
    Devias pedir conselhos ao teu pai, ele tem falado de duas grandes séries que não referiste: The Wire e The Shield, são as duas melhores séries policiais de sempre, sendo que a primeira é das melhores séries de sempre (em qualquer categoria ou género).
    Aconselho-te também que vejas Supernatural, a primeira temporada não é grande coisa mas as coisas melhoram na segunda, a partir da terceira é sempre a abrir. Além disso uma série que tem na sua banda sonora bandas como AC/DC, Black Sabbath, Motörhead, etc
    Além destas existem também as excelentes West Wing, The Office US, 30 Rock, Sons of Anarchy, Criminal Minds, True Blood, Fringe.

  9. Nelito Carrapito says:

    Na minha opinião, a grande diferença é a maneira como vemos as séries. Quem fica uma semana a vibrar à espera do próximo episódio?
    Eu não.
    Primeiro, não tenho paciência para isso, mesmo que signifique uma sexta e sábado (sem os miúdos, claro) passado a frente do televisor a comer comida de plástico e com a manta no sofá.
    Segundo, não temos a interactividade social, e não estou a falar do facebook ou do twitter, de todas as pessoas que nós conhecemos (mas mesmo todas), verem o que nós vimos no dia ou semana anterior. A oferta é tanta que é mais provável que a pessoa que se senta ao meu lado a trabalhar nem nunca ter ouvido da série que me prendeu ao sofá no fim-de-semana.

    Nota:
    Ontem refiz esse velho custume com a nova série do AXN, o FlashForward, série que joga com a data de estreia duma maneira original – na Europa é difundida com o atraso de alguns dias da exibição nos EU. Gostei do primeiro episódio mas possivelmente não vou ver mais até a série inteira estar disponível para download. E aí vou ver tudo de seguida…

    De todas as séries que falaste só vejo a genialidade do Dexter e das das 2 primeiras temporadas do Lost… ahhh do L World… mas nem é pelo argumento. Miúdas engraçadas a brincar com as mamocas de mais miudas engraçadas merecem 40m da minha atenção em frente ao televisor.

    • Aí está a atitude descontraída e despreocupada de quem vê séries de televisão como entretenimento e não como a mais altíssima forma de arte actual.

      Olha, Dexter nem vejo… espero que acabe para poder ver de seguida. É que, muitas vezes, um episódio não me chega, tenho que ver dois ou três de seguida. Esperar por episódios é muito século XX. :-)

      O meu record são 16 episódios seguidos de 24 num dia e os restantes 8 no dia seguinte. Mas nessa altura não tinha filhos :-)

  10. Luckynumberlipe says:

    dude!

    Leio e assino por baixo! Esqueceste-te so duma serie (entre muitas claro) que vale mesmo a pena ver: Entourage!

    abraço e bons posts

  11. Luís Miranda says:

    Para mim a já velhita The Wire é uma série joga num campeonato completamente à parte das demais. Para ver com calma, que mais séries desta qualidade não se arranjam facilmente.

    Já na comédia americana recomendo Arrested Development, uma comédia que é narrada e sem riso enlatado. Também gosto de comédia britânica mas nem todos apreciam. :)

  12. AnaD says:

    Ainda no outro dia falava com um amigo sobre o Heroes, vi e gostei da primeira season, mas depois já não consegui ver a a segunda e afastei-me. No outro dia estive a ver um episódio da S3 julgo e imagino que a minha expressão facial seria mesma se estivesse a ver uma qualquer novela dinamarquesa… eu acho que aquela gente fuma umas coisas giras… mas cujo prazo de validade expirou em 1977.

    Religiosamente sigo o How I Met Your Mother… e acompanho o House, gosto de ver uns CSI (NY ou LV), as vezes dá-me para ver a Anatomia de Grey (há que alimentar o meu lado de gaija).
    Não tenho pachorra para seguir os horários das series, por isso se vir vejo se não vir não vejo.

    Uma notinha para o Dempsey e Makepeace… essa serie é do camandro. Eu e o meu pai seguíamos religiosamente … ahhh e o McGyver também, ou não fossemos nós uns engenhocas de primeira :)

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