Publicado em , por Pedro Couto e Santos
Dia do oitavo concerto do ano e desta vez foi uma experiência daquelas que se tem em jovem, mas que eu nunca tinha tido assim: mosh í bruta. Embora tenha estado nalguns concertos em que houve alguns empurrões, numa altura em que eu ficava muito ofendido com isso, nunca tinha passado por esta brutalidade avassaladora durante horas a fio.
Cheguei cedo í plateia do Coliseu e coloquei-me ao centro e í frente, com pouco mais de 2 ou 3 pessoas entre mim e a grade. Tinha a intenção de ver as bandas como eu gosto: de perto.
As hostilidades abriram com uma banda de goth metal, Unto Others, que pouco aqueceu a multidão, embora não fossem maus de todo.
A música começou por volta das 7 da tarde, já que iam actuar quatro bandas, num crescendo de popularidade, até ao culmino dos Arch Enemy. Até aqui, tudo bem, embora tenha entrado no Coliseu já ciente de que não levara os tampões para os ouvidos, apesar de ter estado com eles na mão antes de sair. Bom… foi uma questão de aceitar.
Depois de um intervalo de uns 20 minutos, os ventos metálicos mudaram radicalmente, com a subida ao palco dos britânicos Carcass. Antevia-se uma frente de agressividade, com laivos de mixórdia de carnificina, levando a aguaceiros de metaleiro, mas o que realmente recebemos foi um furacão de machos de tronco nu e cabeleira desenvolta, com constantes arremessos humanos por sobre a multidão.
Crowd surfers constantes, muitos com bons 80/90 kg, a voar por cima das nossas cabeças, enquanto tentávamos não levar um biqueiro nos cornos.
À minha frente estava uma família de pai, mãe e filha de 15 anos, bem como um tipo de 40 e picos e respectivo pai de 70 anos com um pé magoado. Malta mesmo bem posicionada para levar com a investida imparável de dezenas de jovem hirsutos, desejosos de soltar a sua fera anti-sistema.
Fiz o que pude para me manter vertical, evitar os ditos biqueiros e — dentro do possível — ajudar a escudar as filas da frente. A dada altura, os seguranças convenceram a criança a sair dali e terminar de assistir ao espectáculo num lugar menos… metal.
No intervalo seguinte, havia algum consenso entre a malta mais próxima da minha faixa etária que as duas bandas cabeça de cartaz — Behemoth e Arch Enemy — trariam outro tipo de assentimento craniano, ao ritmo da música e menos voos acrobáticos, qual Cirque du Soleil satânico.
Errado, claro.
Os Behemoth, polacos do death metal, avançaram com uma entrada pausada e teatral, mas assim que arrancou o “Ora Pro Nobis Lucifer” foi a loucura total.
Já se percebeu que levei porrada, muita porrada. Mas mais uma vez se percebeu, também, que esta malta do metal é uma irmandade curiosa: sedentos de sangue metafórico, mas umas jóias de moços (e algumas moças). A única vez que acabei por cair nos vai-vem de empurrões multitudinais, dei por mim levantado, quase de imediato, por uns quatro pares de braços. In nomine metallum!
Na última música, Nergal e seus co-conspiradores assomaram-se da boca de cena e cuspiram sangue sobre a multidão. Estava fechada a terceira actuação e, mais uma vez, a malta convenceu-se que a natureza mais melódica da última banda levaria í acalmia das hostes e algum descanso para a frente de combate. A minha t-shirt estava absolutamente ensopada em suor e a cara e as mãos devidamente marcadas pelo sangue ante-mencionado.
A cortina entre bandas anunciava “pure fucking metal” e, confesso, as minhas costas já ardiam mais do que depois de uma sessão de treino com o Dorian Yates, mas tinha ido para ver Arch Enemy e não ia deixar acabar a noite sem ver a Alyssa White Gluz de perto.
Dito e feito.
Já sem surpresa, aguentei as primeiras 3 ou 4 músicas dos Arch Enemy, sob um mar de encontrões e navegadores de multidão até, finalmente ceder. Lamentavelmente, a banda não tocou nenhuma das minhas três músicas preferidas, todas do álbum “Anthems of Rebellion”, a saber: “We Will Rise”, “Dead Eyes See No Future” e “Marching On a Dead End Road”. Uma pena, mas não se podia pedir tanto, suponho, são músicas com quase 20 anos.No final, trouxe a t-shirt da praxe e encontrei dois amigos, com quem acabei por estar na conversa até í uma e tal, já na rua.
E assim sendo, este ano já vi José González, Skunk Anansie, New Pagans, Russian Circles, Helms Alee, Process of Guilt, The Ocean, Psychonaut, PG.Lost, The Smile, Sigur Rós, Unto Others, Carcass, Behemoth e Arch Enemy. O que se segue?