A day in the life

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Lembrei-me que seria interessante, daqui a dez anos, ler uma descrição de como é um dia típico na minha vida, agora. Tenho grande prazer em ler os meus diários mais antigos e perceber quão diferentes eram os meus dias há 10, 15, 20 anos atrás. Não tenho, porém, um registo deste tipo, sucinto e completo de um dia inteiro, portanto, mais para a posteridade do que propriamente por interesse que possa ter agora, aqui fica, um dia na minha vida.

O despertador toca às 7:20. Tocava às 7, mas a verdade é que ninguém se levantava, pelo que decidi que tínhamos direito a mais 20 minutos.

Dependendo da hora a que fui para a cama, talvez me consiga levantar. Geralmente, se me deitar até à uma, levanto-me, se me deitei depois da uma, é bem mais complicado. Geralmente, é complicado.

O alarme de contingência toca às 7:45 e usa um som bem mais irritante. Uso o meu iPod Touch de segunda geração para servir de despertador. Quando me descolo da cama, levo-o sempre comigo: dou uma vista de olhos na minha Tiny Tower, vejo as notícias na app do Público, dou um salto ao Facebook e Twitter para ver se houve actividade nocturna que me diga respeito.

Como o mais comum é deitar-me tarde, já só mesmo depois das 7:45 é que me arrasto para fora da cama. Já sei que é muito tarde, portanto faço as coisas em fragmentos: vou lavar os dentes e a cara, e uns minutos antes das oito, vou acordar o Tiago. Dou, geralmente, com ele destapado e gelado, aproveito para o tapar e dizer que pode dormir mais um bocadinho, algo que lhe agrada visivelmente.

É um truque. Em vez de o acordar às oito, acordo-o 5 ou 10 minutos antes e digo-lhe logo que pode ficar mais um bocadinho. Quando o vou buscar às 8 já está bastante mais bem disposto.

Depois sigo para a cozinha para fazer o meu pequeno almoço: ovos e feijão, bacon alguns dias, noutros não. E café, claro. Preparo os cereais do Tiago e vou buscá-lo à cama, levo-o ao colo para a cozinha, é a única altura em que ainda anda ao colo, com 4 anos e meio e 1,12 m de altura. Mas faz parte da rotina matinal, ele gosta e eu também.

Sento-o na cadeira, fecho-lhe o estore para não entrar luz a mais e tapo-o com uma manta. Ele adora o tratamento privilegiado de manhã e geralmente come o pequeno almoço sem problemas. Às vezes tem mesmo que ficar sozinho na cozinha a comer, mas tento sempre fazer-lhe companhia. Um ou outro dia não come, nota-se que não tem vontade nenhuma, mas não há stress: não quer, não come, ou oferecemos-lhe uma alternativa qualquer que ele acaba por comer.

Entretanto, a Dee também já se levantou, claro. E a Joana também e juntam-se a nós, para a Joana comer. Com ela, as coisas ainda são complicadas e com 15 meses já vai fazendo algumas fitinhas típicas: diz que não, rejeita comida, finge que chora. Mas também tem estado doente, o que não ajuda e quando se sente melhor, está, geralmente, bem disposta e sempre a sorrir.

Depois de comer é preciso escolher roupa para o Tiago. A rotina varia um bocado, umas vezes vou eu, outras vezes, a mãe, tanto a escolher a roupa, como a vesti-lo. Umas vezes é para vestir logo, outras é só para deixar a roupa pronta para vestir quando ele acabar de comer. E também varia qual dos pais o veste. Ele já poderia vestir-se sozinho, mas é uma daquelas coisas que já fazemos automaticamente e acaba por ser mais rápido. Há-de chegar a altura em que se veste ele, assim como come e vai à casa de banho sem interferência.

Entretanto, eu vou tomar banho e vestir-me.

Se tudo tiver corrido razoavelmente bem, tudo o acima descrito passa-se em cerca de uma hora ou um bocadinho menos e saímos todos de casa entre as 8:40 e as 8:50. Vamos para o carro e levamos os miúdos à escola, sem esquecer, claro, as mochilas, brinquedos (o Tiago leva quase sempre algo diferente para brincar no recreio) e o carrinho da Joana que tem que ficar na escola, para a mãe a poder trazer para casa ao fim do dia. No entanto, muitas vezes chegamos atrasados, ou porque saímos tarde demais, ou porque demoramos 10 minutos a conseguir estacionar o carro na loucura da hora de ponta à porta da escola. No entanto, se não chegam antes das nove, chegam pouco depois.

Com os miúdos na escola, deixo a Dee em casa e sigo para a estação de comboios e depois de uma viagem sobre a ponte 25 de Abril (ou será sob?), passo para o metro em Entrecampos para ir para Picoas.

Chego e vou dar uma volta pelo mail, pelo trabalho do dia anterior e pela lista das coisas que estão em cima da mesa para decidir o que faço nesse dia. A meio da manhã vou beber um cafézinho com quem estiver da minha equipa. É, geralmente, altura para algum team-building, já que durante o dia, estamos muitas vezes atarefados sem grande oportunidade para trocar ideias, também ajuda ficar a saber o que está a ser feito e se há alguma urgência. Tipicamente, de manhã trabalho numa coisa, por vezes duas, fora os assuntos que surgem inesperadamente, pessoas que querem falar comigo ou pedidos de corredor.

Vou almoçar por volta do meio-dia, quase sempre no centro comercial, o mais barato possível.  Um almoço típico é carne grelhada com legumes cozidos e feijão num sítio chamado Meio Sal, ou um hamburger grelhado com espinafres salteados ou salada, no H3. Café é no quiosque Delta, com pauzinho da canela e sem açúcar. Aproveita-se para conversar sobre de tudo um pouco. Ultimamente, claro, o orçamento de Estado e os cortes salariais e aumentos fiscais que o Governo lançou para tentar “vencer a crise”, a tal crise em que parece que estamos desde sempre.

Durante a tarde, trabalho sempre em mais coisas do que de manhã, geralmente duas a quatro coisas diferentes: esta semana teve muito de logotipos para dois serviços diferentes, análises de design de outros designers, trabalho para projectos do SAPO de que não posso falar em público ou coisas relacionadas com o Codebits deste ano, incluindo uma visita ao espaço, com a equipa toda, para tirar medidas e fotos, para preparar a decoração e sinalética do evento.

A meio da tarde, se estiver para aí virado, vou lanchar qualquer coisa, caso contrário, umas batatas fritas da máquina servem. Como não fumo, me esqueço de beber água e passo horas sem ir à casa de banho, faço poucas pausas, pelo que uns minutinhos para um lanche ou café a meio da tarde, por volta das 5, 5 e meia da tarde, são essenciais para aguentar o resto da tarde.

O dia é sempre marcado por conversas com inúmeras pessoas, algumas reuniões previstas, outras interpelações de corredor ou coisas não planeadas que caem no mail. Vou sempre mantendo um olho no que a minha equipa está a fazer e como estão as coisas mais prioritárias e fazendo ponte com as equipas que nos são mais próximas, enquanto tento manter uma mão nas coisas que me são mais difíceis, como o registo de horas ou o acompanhamento das tarefas na intranet.

Algures entre as 19:30 e as 20:30 saio para fazer a viagem inversa: 50 a 60 minutos, entre metro, comboio e carro de volta a casa.

Muitas vezes, quando chego, a Joana já dorme ou se ainda não está na cama, está prestes a ir. A Dee, que vai buscar os putos à escola, dá-lhes o jantar e deita a Joana, se ela já estiver com muito sono. É altura de tratar do Tiago. Passar um bocadinho com ele, a ver um filme, brincar ou só conversar, enquanto eu preparo qualquer coisa para comer.

Mas nem sempre como, algumas vezes vou directo para a rotina de deitar dele. Vai fazer xixi e lava os dentes, enquanto eu preparo o quarto dele. Dou-lhe um duche rápido, seco-o, visto-lhe o pijama e deito-me um bocadinho com ele.

Geralmente, jogamos um joguinho no iPod enquanto conversamos sobre o dia, ou sobre robots… ou sobre macacos mutantes. Depois tapo-o, despeço-me e saio.

Se tudo correr bem – e costuma correr – está na cama entre as nove e as dez da noite.

Se já tiver jantado, arrumo a cozinha, se não, janto e depois arrumo a cozinha. Algures entre as dez e as dez e meia da noite é altura de ir para o sótão trabalhar.

Quer seja trabalho do SAPO, como aconteceu esta última semana, quer seja do meu projecto pessoal (que caminha a passos largos para a conclusão), trabalho não tem faltado. Ponho música, mantenho o Facebook aberto para ir mandando umas bocas e ataco o trabalho que tiver para fazer e que geralmente envolve desenho de interfaces, ilustrações ou animações, quase sempre em Photoshop, por vezes em Illustrator; mas também faço som (gravação, tratamento, etc) e música.

Se for dia de exercício (a cada três dias), quando me sentir para aí virado, preparo os halteres e faço os exercícios. Se assim for, depois, desço à cozinha para beber o meu batido de proteína, antes de voltar lá para cima para trabalhar mais um bocado.

Um ou outro dia, geralmente mais para sexta-feira, se preciso de desanuviar, em vez de ir logo trabalhar, primeiro sento-me na sala a jogar GranTurismo 5, na Playstation 3. Uso o meu voltante Logitech DrivingForce GT e divirto-me uma hora ou duas, ao volante de automóveis virtuais que na vida real são mais caros que a minha casa. Dependendo da hora que for quando desisto do jogo, muitas vezes ainda vou trabalhar um bocado.

Por volta da meia-noite e meia, uma da manhã, começo a pensar que é hora de deitar e geralmente, acabo na cama por volta das duas ou, por vezes, mais perto das três.

Quatro ou cinco horas depois, toca o despertador. Costumava tocar às 7, mas a verdade é que ninguém se levantava…

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Um comentário a “A day in the life”

  1. […] engraçado a ideia do Pedro Santos de relatar um dia da vida dele, para mais tarde recordar. Afinal não só através da fotografia ou […]

Responder a Um dia da minha vida | Filipe Rocha

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