Deixem-me em paz!

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Nove da noite, os putos a dormir e eu a preparar-me para deitar as unhas ao GT5 quando tocam à porta.

Era a polícia.

Parece que um útil membro da nossa sociedade decidiu escaqueirar-me um vidro do carro, remexer as minhas coisas e ir-se embora sem levar nada.

Na altura praticamente nem reagi. Fui a casa buscar os documento e segui os agentes até à esquadra do Pragal para apresentar queixa.

“Serve de alguma coisa?”, perguntei eu.

“Pelo menos serve para não dizerem que Portugal é um país de brandos costumes…”, respondeu o polícia. E só com isso convenceu-me.

A PSP foi impecável, sugeriram-me que deixasse o carro à porta da esquadra durante a noite, para minorar as hipóteses de acontecer mais alguma coisa. Foram simpáticos, úteis, prestáveis e no fim, depois da papelada preenchida, ainda me deram boleia para casa.

Nunca me tinham assaltado o carro antes, se bem que, verdade seja dita, dantes eu tinha garagem.

Como um mal nunca vem só, claro, desatou a chover e choveu a noite toda. Dentro do carro, obviamente.

De manhã, tive que levar o Tiago à escola a pé, à chuva, antes de ir ao Pragal buscar o carro.

Seguiu-se uma visita à Sulcarvidro, na zona industrial do Feijó para encomendar um novo vidro que chegará amanhã.

Por causa de um anormal que provavelmente tem a capacidade intelectual de um quadrado de queijo e que merece passar o resto dos dias a comer trinca de arroz do chão de uma estrebaria, foi o meu filho para a escola a apanhar chuva, fui eu para a esquadra passar duas horas em vez de estar em casa calmamente a divertir-me que bem preciso, vou ter que pagar um vidro novo, gastando pelo menos duas manhãs com o processo (e dinheiro, claro, porque a seguradora só cobre vidros partidos por alterações térmicas, acidentes cósmicos ou telequinese).

Esse espécime sub-humano, indigno de sequer andar na mesma rua que eu, quando mais viver no mesmo país, deve ter satisfeito uma qualquer necessidade primária (suspeito que masculina, mas não quero discriminar à toa); terá ficado muito satisfeito por perceber que não havia nada de valor no meu carro – dois pares de óculos escuros razoavelmente antigos, uns carregadores de isqueiro, umas chaves de bocas –  nada que valesse sequer perto dos 80 e tal euros que vou pagar por um vidro novo.

Bom, havia as cadeiras dos miúdos, mas isso não é coisa que se roube nem, aliás, deve ser nada com que a aventesma consiga sequer relacionar-se já que, não tenho dúvidas, que não sabe sequer o que é uma criança, quando mais uma cadeira automóvel para as transportar.

Estes parasitas só não são completamente inúteis para a sociedade porque acredito que dariam excelente estrume para alimentar colheitas ou mesmo canteiros em jardins públicos. E eu, que sou um gajo moderado, fico completamente alterado com coisas destas, com estes consumidores de oxigénio com pernas que interferem na vida dos outros, que agem impunes, causando danos, transtornos, incómodos com um acto simples e completamente inútil mostrando uma estupidez assoberbante e convencendo-me que, de facto, eu, como muita gente, me levanto de manhã e vou trabalhar todos os dias, para pagar os impostos que servem para pagar subsídios e rendimentos a estes animais.

Dá-me uma extrema-direitite aguda, aqui nos rins  – porque violaram aquilo que é meu, porque invadiram o que me pertence, o carro – apenas uma carcaça – mas onde transporto a minha família, os meus filhos e que acaba por ser uma extensão móvel da minha casa; e pior ainda porque nunca vão ser apanhados e se fossem, nunca seriam, como deviam, fechados numa sala sozinhos com o Mr. Blonde.

"Ever listen to K Billy's 'Super Sounds of the 70s'?... It's my personal favorite."

E sim, eu sei que é um contra-senso usar um criminoso psicopata ficcional para ilustrar a ideia do vingador do criminoso, ranhoso, manhoso, merdoso da vida real que me partiu um vidro e sim, é só um vidro e sim, há milhares de militares nas favelas do Rio e gente com fome em África e provavelmente muitos considerandos e atenuantes e muitas facetas e vertentes e variantes à Nacional 10, mas a verdade é que eu… só quero… QUE ME DEIXEM EM PAZ!

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13 comentários a “Deixem-me em paz!”

  1. HCarvalho says:

    Não sei que seguro tens, mas mesmo um seguro contra terceiros com Quebra de vidros incluida dava para pagar esse dano, bastava levares o carro à Expressglass ou Glassdrive e dares o teu nº de apólice, mais nada, em poucos minutos trocavam-te o vidro, ias à tua vida e o seguro não te agrava.

    • Lamentavelmente isso não é assim. O meu seguro cobre quebra de vidros em vários casos, mas não neste. Que é aliás o que sucede quase sempre com seguradoras.

      E também não me trocam o vidro em minutos, fui à Glassdrive e não tinham vidro, ficou encomendado, chega amanhã e demora hora e meia a montar.

      • HCarvalho says:

        Eu sou agente de seguros e trabalho com 3 companhias e posso te dizer que é como eu disse, não podes é dizer que foi roubo, devias ter dito que encontraste o carro assim sem saberes como foi. Nos casos como o teu nunca se deve falar em roubo ou vandalismo porque nesse caso as companhias só actuam se tiveres cobertura para as duas, deves dizer sempre que o vidro apenas se partiu.

        • PiNaS says:

          Aqui o HCarvalho tem razão.
          Aquilo que contas já me aconteceu duas vezes. Da primeira armado em gajo honesto disse à companhia que me tinham assaltado carro e tal….coisei-me com F. e paguei do meu bolso. Da segunda levei o carro à carglass mostrei a apólice e não abri a boca. Em pouco tempo tive a aprovação da companhia, como não tinham vidro na altura colocaram um acrilico provisório e posteriormente o vidro definitivo. Não me fizeram perguntas.

        • Mas eu apresentei queixa na polícia.

          Não deixo de achar curioso que seja um agente de seguros a aconselhar-me a que minta à seguradora. :-P

  2. artur says:

    É nestas ocasiões que http://www.coiso.net/?p=3077 dá jeito.

  3. Rita says:

    Bom dia!
    Esta noite aconteceu me a mesma situação, e parece me que talvez até na mesma zona.
    Sou residente em V.Figueira e o meu marido hj ao comentar no cafe proximo de casa o que tinha acontecido, soube que nas últimas noites vários veículos foram assaltados.
    Também pensei o mesmo ‘De que vale apresentar queixa?’. Mas talvez passe na esquadra hoje.
    Cumprimentos.

    • Pois, eu vivo em Almada. Depois percebi que o assalto deve ter sido por causa do GPS, já que eu tinha o suporte no vidro e só reparei mais tarde que me roubaram o carregador do dito. Partiram o vidro e remexeram o porta luvas à procura do GPS, mas eu não o tenho no carro.

      Mas fica o conselho: não deixem o suporte do GPS no vidro.

Responder a artur couto e santos

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