Tiálogos – Prólogo. Como nasceu o Tiago.

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Era uma vez, em 1988, dois adolescentes geeks, numa altura em que ser geek ainda não tinha piada nenhuma, que se conheceram na Escola Secundária Emídio Navarro. Ficaram amigos e passavam muito tempo juntos, sobretudo para evitar terem que se misturar com os outros adolescentes.

No dia 24 de Abril de 1989, por troca de cartas e cassetes românticas (eu avisei que eles eram geeks), começaram a namorar. O que significa, mais ou menos, que passaram a andar de mãos dadas pela rua. Era preciso ter calma.

Mas a calma foi-se perdendo e as coisas foram-se tornando interessantes, até que passou um ano e depois dois e quando deram por isso, estavam juntos há cinco anos e depois seis e sete… e por aí fora, até que em 1998 decidiram que era altura de saírem de casa dos pais e irem viver juntos e como pessoas práticas que eram, aproveitaram para se casar, pois na altura não tinham máquina de café.

Finalmente, no Domingo, dia 11 de Março de 2007, levantaram-se muito cedo e partiram para o Hospital Garcia de Orta, em Almada, para induzir o parto do seu segundo filho, às 37 semanas e um dia.

Às oito e meia estavam na recepção da urgência de obstetrícia e pouco depois, ela estava de bata, pronta a entrar para o bloco de partos.

Por volta das 10:40, tomou dois comprimidos de prostaglandinas, mas o efeito não foi propriamente significativo, causando apenas fracas contracções.

Esperou-se.

Às quatro da tarde, entrou a ocitocina no I.V. e as contracções tornaram-se decididamente mais fortes. Por volta das cinco, o médico rebentou a bolsa de águas, que é um procedimento habitual em segundos partos e geralmente ajuda a acelerar o processo.

Infelizmente, passaram-se mais duas horas, sem alterações. Na última vez que o médico verificou, oito horas depois do início do processo, o Tiago ainda não tinha sequer encaixado.

Era preciso tomar decisões: ou se insistia na indução e se esperava, o risco sendo o processo continuar a não avançar, obrigando a uma cesariana; ou se partia imediatamente para a cesariana, eliminando outras oito, dez, ou mais horas de espera.

Às 19 tive que sair da sala de trabalho de parto e a Dee foi levada para o bloco operatório. Quarenta e quatro minutos depois, nascia o Tiago e às oito da noite, finalmente, peguei no meu filho pela primeira vez.

Naquele momento em que a enfermeira Tina mo passou para as mãos, percebi que não é possível que exista algo melhor do que isto. Segurar o meu filho nos braços é, sem qualquer reserva, incomparável e indubitavelmente a mais inacreditavelmente estupenda e inultrapassável sensação da minha vida.

É como se nada importasse e tudo importasse, ao mesmo tempo, naquele momento. É um sentimento para o qual não existe uma palavra. Não é descritível, não é explicável.

Vi o Tiago pouco tempo e depois ele teve que voltar para dentro. Nasceu com 2800 g., um pouco menos do que a ecografia tinha levado a crer que tinha, mas ainda assim, jeitosinho. Para quem sabe o que isso quer dizer, teve um apgar 10 (logo boas notas, o rapaz!) e a cirurgia correu bem, apesar de ter havido um pequeno susto, com a Dee a perder sangue e a ter uma queda de tensão algo acentuada.

As quatro horas que se seguiram foram o equivalente a esperar que, um a um, todos os chineses do mundo se chegassem à frente, de forma organizada e por ordem alfabética, e dissessem o seu nome a um microfone.

Na sala de espera, depois das 21, apenas podem permanecer dois acompanhantes por paciente. Nós éramos catorze.

Até que, enfim, mãe e filho saíram pela porta automática do bloco de partos. Em poucos segundos, a enfermeira que empurrava a cama, viu-se cercada pelo Artur, a Mila, a Marta, o Filipe, o Gustavo, a Inês, o Jorge, a Luísa, a Rita, o Pompílio, a Maria, o Pedro e a Ana. E, claro, eu.

Foram mais alguns breves segundos e depois a minha nova família foi levada para o quinto piso e eu tive que voltar para casa sozinho.

Foi um processo de dezanove anos e nota-se: o Tiago é simplesmente lindo.

…ou pensavam que tinha sido fácil?

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9 comentários a “Tiálogos – Prólogo. Como nasceu o Tiago.”

  1. Sónia says:

    Uma vez mais, e para além da lagrimita que tenho no canto do olho, a única coisa que me ocorre dizer é o banal “good things come to those who wait”. Vocês merecem. Que sejam sempre tão felizes….

  2. melusine says:

    babado, babado, babado!
    Ficámos muito contentes de saber que tudo, apesar de não tão imediato como se desejaria, correu bem.
    Que a mãe e o filho (e, porque não, o pai) estão bem!
    Desejo-vos as maiores felicidades que possas imaginar…
    … e agora é que vão ser elas!!

  3. Emília says:

    Desejo que a mamã recupere depressa e… agora vêm outras noites…, fraldinhas e outras delícias que só as crianças nos dão, Felicidades.

  4. isa says:

    20 anos??? cum caneco… é obra! olha, só vos posso desejar tudode bom, que o Tiago continue lindo e que corra td bem c vcs que bem merecem. Um beijo à Dee e outro pra ti! e um ao Tiaguinho, já agora…

  5. Aneli says:

    Ah Macaco! Como é bom ler histórias felizes, que agora será cada vez mais linda! Um grande abraço e boa recuperação à Dee.

  6. Ahedonia says:

    Desta vez a lágrima foi de alegria, e a empatia com vocês não poderia ser por melhor razão!! Estou muito feliz por vocês, que tudo pareça encaixar-se, que todo o caminho dificil tenha conduzido a este momento. Um grande abraço

  7. Tagide says:

    Poxa sou mesmo chorona, mais uma vez fiquei emocionada.
    Mais uma vez felicidades e que a mamã recupere depressa.
    Porque agora vai começar a verdadeira maravilha.
    Beijufas

  8. Boas. E Parabéns para todos. Quanto às sensações… Yeap… Estás lá.

  9. bluegift says:

    Parabéns! Há cerca de dois anos, salvo erro, que acompanho as vossas peripécias apesar de não comentar. Estava ansiosa por esta notícia. Não foi fácil mas venceram as contrariedades, e isso é o mais importante. Mais uma vez: Parabéns!

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