Coisas de música

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Sou um fanático de coisas de música. A própria música, claro, os meios para a ouvir, os instrumentos para a tocar, as formas de a gravar e até as técnicas para a misturar e produzir. Gosto tanto de música que muitas vezes me pergunto porque é que não estudei mais.

(uma faixa escrita e cantada/tocada pela Dalila, com arranjos, produção e mistura meus)

Como escrevi num post há relativamente pouco tempo, aderi ao Apple Music e ao streaming, com alguma relutância, mas hoje estou rendido às suas vantagens. Há realmente muita música nestes serviços online e a qualidade é muito boa. Diria mesmo, excelente, a menos, claro, que sejamos exigentíssimos aficionados do vinil e da Alta-Fidelidade. Vulgo, chatos.

Graças ao Apple music (apenas porque, por acaso é o serviço que uso, podia ser outro), tenho então descoberto muita música que nunca tinha ouvido antes e que, confesso, já achava difícil vir a descobrir. Claro que há sempre música nova, mas mesmo entre música que já não é nova, novas descobertas estão muito facilitadas por esta espécie de rádio livre de escolhas e gostos alheios, publicidade e programas da manhã idiotas com a mania que têm piada.

Por exemplo, recentemente, apareceu-me sugerido Nova Collective e o seu primeiro álbum: “The Further Side”. É uma banda prog instrumental completamente deslocada do tempo em 2017. Completamente inesperado e estupidamente bom, é do tipo de música nerdy que já pouco se faz e que eu gosto e muito. É preciso ter o cérebro numa determinada sintonia, mas é um prazer especial, acompanhar as melodias rendilhadas e os ritmos jazzísticos que as ajudam a progredir até ao destino final que é, afinal, nenhum.

Mas podemos atirar-nos para um lado completamente diferente do espectro e apanhar o som pop contemporâneo da Bishop Briggs, uma britânica nascida em 92, de seu nome Sarah Grace McLaughlin, aka Bishop Briggs, ou apenas, that girl Bishop. Feita de batidas escortanhadas em samplers e drum machines, baixo e um bocadinho de guitarra, mas com um voz potente em cima, é uma miúda que me chegou com a faixa “River” que acabou de levar, entre outras, ao SxSW, que partilhou no Instagram com fotos e vídeos, entusiasmadíssima, como se esperaria de uma miúda prestes a tocar num dos mais famosos festivais de música do mundo.

Para mudar de energia, já há uns meses, o iCoiso musical apresentou-me Sohn – Filho, em alemão. Outro britânico, este, sediado em Viena. Chama-se Christopher Michael Taylor. Numa incarnação anterior tinha uma banda chamada Trouble Over Tokyo que lançou quatro discos, mas que já não existe. Agora, canta sobre ondas de teclados electrónicos, umas vezes mais dançável, outras mais intimista e emocional. Gostei de todo o álbum, “Rennen”, mas foi mesmo a faixa homónima que me prendeu definitavamente.

Talvez o Sohn tenha laivos de Moderat, um trio de alemães, uma colaboração entre Sascha Ring (aka Apparat) e os Modskeletor. A música é lascivamente boa, um mar electrónico navegado por uma quase frágil voz masculina que atinge o seu pináculo, na minha opinião na primeira faixa do álbum “III”, “Eating Hooks”. Este álbum é, aliás, soberbo.

Outro artista que desconhecia por completo, mesmo enquanto guitarrista da banda de metal Tribulation, é o sueco Jonathan Hultén. A solo, só lhe descubro um single com uma única faixa: “Nightly Sun”. Ao início, fez-me muito lembrar a voz e guitarra do José Gonzalez, mas à medida que os 5’55” da música progridem, a coisa vai evoluíndo para uma tapeçaria de harmonias vocais e culmina numa espécie de finale à lá “Hey Jude”, versão “gajo sueco do metal a tocar acústica”. Gosto à brava e aguardo com alguma curiosidade um LP.

Já passámos por prog rock, pop, electrónica vocal, enfim, que tal um pouco te techno? Eu disse que gostava de música, isso inclui os mais variados estilos. E se há coisa que gosto muito é um bom velho techno. Não estou a falar dessa merda de martelos de Ibiza, mas de Detroit e seus descendentes como, imagino, sejam os Simian Mobile Disco, mais ingleses, dois, ao que parece. O álbum chama-se “Welcome to Sideways” e é um longo banho de imersão de sons analógicos quase sempre acompanhados por um four-on-the-floor, como se deseja.

Se gostam de metal, não é que não conhecesse Gojira antes, mas é desde que uso o serviço de streaming que tenho ouvido bastante mais. O “L’Enfant Sauvage” de 2012 é uma obra de arte de double-pedal beats e riffs de guitarras dobradas com o Joe Duplantier a fazer uma voz agressiva qb, mas sem perder completamente a dicção. Mencionei que são franceses? Gosto.

Há mais exemplos, podia continuar por aqui fora e mencionar a faixa “Hurt Me” da escocesa Låpsley do álbum “Long Way Home”, com uma produção vocal bestial; ou do LP1, de FKA Twigs, que contém uma das músicas mais sexy dos últimos anos, “Two Weeks”; ou ainda da voz cristalina do James Blake que inspirou o seu disco “Overgrown” na sua nova namorada sobre quem canta o hipnótico “Retrograde”.

De certeza que há ainda mais música que descobri nos últimos tempos, de que nunca tinha ouvido falar ou que, tendo ouvido mencionado, nunca tinha experimentado ouvir. Para quem gosta de música, a rádio sempre foi uma boa companheira, mas ouso dizer que o Spotify e companhia são mais do que isso, verdadeiros amigalhaços, daqueles que nos põem o braço pelos ombros e dizem: “olha lá, tu já ouviste London Grammar? É mesmo a tua cara, experimenta lá, que acho que vais gostar!”

Tags

Deixar comentário. Permalink.

Deixar um comentário

Redes de Camaradas

 
Facebook
Twitter
Instagram