Extremismo e fundamentalismo

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Os portugueses, especialmente os que se sentem culpados, gostam da palavra “fundamentalismo”, também gostam de “extremismo”, mas preferem, decididamente, “fundamentalismo”.

Há temas quase mágicos que fazem despoletar esta palavra. Vegetarianismo, que até rima com fundamentalismo, é uma delas.

Os portugueses que não são vegetarianos, não concebem um vegetariano (novamente, generalizo, mas é para bem do tempo, que isto não é um ensaio, é só um blog idiota), pelo que, imeditamente, o rotulam de “fundamentalista”.

O mesmo se passa entre fumadores e não-fumadores, como já se viu. Um fumador, rotula o não-fumador que se queixa, de “fundamentalista”. Não que o não-fumador não chame coisas piores ao fumador, evidentemente.

A definição de fundamentalismo vem, mais do que obviamente, da palavra “fundamental” e tem raíz na religião. O fundamentalista é aquele que defende um determinado conjunto de crenças religiosas tidas como fundamentais para a sua religião.

Para um fundamentalista islâmico, é fundamental que a mulher cubra completamente o corpo e que o homem não beba álcool. Conversados.

Mas pode ser-se fundamentalista sem se ser extremista?

O que é afinal um extremista? É alguém que… bom, defende ideias extremas.

Suspeito, portanto que seja possível ser-se fundamentalista – acreditar que se deve jejuar na sexta-feira de páscoa – mas não andar com uma kalashnikov a obrigar todos a jejuar no dito dia. Aqui teríamos um fundamentalista não extremista.

O contrário seria um fundamentalista extremista.

O dicionário que consultei, é bem claro na ligação que faz entre fundamentalismo e religião e como ser vegetariano não é uma religião, fundamentalismo parece-me um termo desadequado para um vegetariano.

O vegetarianismo pode ser ditado pela doutrina de determinada religião, budismo, por exemplo. E aí, talvez possamos considerar uma pessoa vegetariana, fundamentalista… mas pela sua dedicação às crenças ortodoxas budistas e não necessariamente pelo seu vegetarianismo.

Quanto a extremismo: como definir o que é extremo?

É extremo um fumador irritar-se com um não-fumador e chamar-lhe nomes em público? Ou será apenas extremo se o fumador puxar uma passa e seguidamente empurrar o não fumador para a linha do metro?

Será apenas extremo se o fumador urinar nos restos trucidados do não-fumador que lhe tinha mandado apagar a beata num tom pouco amigável?

O extremismo tem níveis, o que nos leva ao termo “extremismo radical”. O extremismo radical é o extremismo mais divertido de todos e não há nada melhor que um fundamentalista extremista radical.

Este é o cidadão modelo que está absolutamente convicto que Jesus morreu na cruz pelos nossos pecados (fundamentalismo), e que na sua interpretação mal-guiada acredita que todos devíamos ter o mesmo destino (extremismo), e que, portanto, anda de porta em porta a pregar os vizinhos a postes (radical).

Não sou extremista, nem radical. Sou amigo dos animais, mas não consigo tornar-me vegetariano. Enjoa-me o capitalismo desumanizante, mas gosto muito dos meus bens de consumo. Não gosto de cigarros, mas não me afasto dos amigos que fumam só por isso. Mas quanto a uma coisa sou fundamentalista: o Benfica é o maior!

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14 comentários a “Extremismo e fundamentalismo”

  1. catarina says:

    Quando comemos só vegetais começamos a escrever axim?!…

  2. Grinch says:

    Gosto de ti pá. Não fumas (como eu), gostas de animais e gostas de comer animais (como eu), gostas de comer animais da tua própria espécie (de preferência do género oposto), és TÃO fundamentalista como eu (BENFIIIICCCAAA!!!!) e tiras férias nos mesmos dias que eu. Se não fossemos ambos casados poderíamos ter um lindo futuro juntos.

  3. Alex says:

    Bem…
    Acho que tenho o direito de me defender e também de informar os leitores dos Macacos.
    A primeira resposta a esta mensagem do Pedro não fui eu que a coloquei, apesar do “Chornal do inacreditável” ser de minha autoria.
    O Pedro sabe que não fui eu que a coloquei, pois o WordPress fornece-lhe o endereço IP (que pode ser falseado) do autor.
    Pela diferença temporal entre o meu post no meu jornal e esta “resposta” (7 minutos) pode bem ter sido o Pedro a colocar esta resposta.
    De qualquer forma, e isto não sou eu a desculpar-me de nada, o meu “Chornal” parece uma amálgama de vómitos, e é-o, pois aquilo nem era para ser escrito por mim, mas por um tipo com mais imaginação, mas que está muito ocupado. Eu ando apenas a encher pneus.
    Até breve

  4. Macaco says:

    Eu cá não pus resposta nenhuma que não assine com o meu nome.

    Grinch: só se fosses gaja… és? Já não me lembro.

  5. ViciousCat says:

    Boas!
    Off-Topic…apenas uma sugestão: volta a configurar o fundo azul sob o titulo; ou entao muda a cor p preto tb, na lista do lado. Esteticamente fica mais apelativa!

    cumps

  6. Macaco says:

    Eu pus preto de propósito.
    E não mudo o resto, pq sinceramente, não me apetece.

    Mas obrigado pela sugestão.

  7. artur says:

    brilhante, este texto!

  8. Grinch says:

    Claro que sou…

  9. Macaco says:

    Aprendi tudo com o meu pai

  10. pachita says:

    Se me permites, a que se deve o preto?…

  11. Elso Lago says:

    Grande Pedro…

    Concordo com o teu pai, de facto, o texto está brilhante. Assim como os dele lá no seu “coiso”. Quanto aos extremismos radicais dos fundamentalistas, por muito que procurassemos as pistas, nunca chegariamos a acordo acerca das verdadeiras causas e explicações.

    Mas quanto ao Benfica, eh pá, sou obrigado a concordar.

    E o meu pai que se farta de comparar o Pinto da Costa e “sus muchachos” aos fundamentalistas islâmicos!!!

  12. Alex says:

    Olá Macaco
    Tens um site porreiro, com montes de visitas, por isso acho que este é o sítio ideal para postar isto.
    Além disso gostas de andar a 200 km/h (eu se pudesse tb andava, mas os meus não passam os 180).
    Note-se que o que este tipo está a dizer sobre sinistralidade rodoviária, no que toca à Física, é absolutamente verdade. Quem tiver dúvidas que entre em contacto comigo.
    Até breve!

    http://web.ioio.info/FiatFerrari.pps

  13. Já vivi muitos anos fora de Portugal. Tenho amigos espalhados pelo mundo — alguns dos quais árabes, e não consequentemente, mas coincidentalmente muçulmanos.
    Ah, e sou do Benfica :)
    Quando falo de amigos, estou a falar de mais do que conhecidos casuais. Partilhei um apartamento com um indivíduo do Bahrain por um ano. Conheço muito bem pessoas da Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Jordânia e Palestina.
    Não consigo manter uma conversa racional e civilizada com nenhuma dessas pessoas sobre religião.
    Tenho que reconhecer que é difícil, por definição, manter uma conversa racional sobre religião, mas o mais moderado dos muçulmanos está 100% convencido que está “certo”.
    Enfim.
    Eu, por outro lado, pessoalmente, concordo 100% com o Bertrand Russell:

    “Religion is based, I think, primarily and mainly upon fear. It is partly the terror of the unknown and partly, as I have said, the wish to feel that you have a kind of elder brother who will stand by you in all your troubles and disputes. … A good world needs knowledge, kindliness, and courage; it does not need a regretful hankering after the past or a fettering of the free intelligence by the words uttered long ago by ignorant men.”

    Será que isso me torna extremista? :)

    Em relação à parte dos fumadores — não se trata de uma questão de igualdade de direitos.
    Fumar próximo de um não-fumador é uma agressão.
    Os não-fumadores não têm nada que pedir aos fumadores para não prejudicarem a saúde do próximo. Têm é que exigir.
    Erradicar o fumo de lugares públicos não é um extremismo, é uma necessidade que já passa muito do prazo.
    O número de pessoas que praticam um mal não mitiga esse mal. Continua a ser um mal.
    Mas quem é que foi que sugeriu que os fumadores tinham o direito de fumar ao pé de não-fumadores?

    É uma barbaridade apelidar uma pessoa que não tolera que lhe atirem fumo para cima de extremista. Isso é um truque baixo que consiste em usar uma palavra de que todos têm medo para assustar os que têm razão.

    A este rítmo, os senhores polícias vão começar a pedir aos senhores criminosos para se dirigirem voluntariamente ao estabelecimento prisional mais próximo… epá, e se não der jeito… tudo bem… porque senão o criminoso ainda chama o polícia de extremista por querer enjaulá-lo como um animal.

    Bem, demagogia à parte:

    a) As prisões são uma aberração da civilização.
    b) Não gosto de polícia, mas também não sou criminoso.
    c) Não gosto de governo, mas pronto, alguém tem que controlar as massas de alguma maneira. Ovelhas precisam de pastores. Seria melhor usar a palavra lemming, mas esses matam-se depressa.
    d) Nunca incomodei um fumador de forma alguma à excepção de duas vezes em que o fumo estava a causar problemas de asma à minha namorada. Fui delicado, assim como as pessoas que estavam a fumar. No entanto, preferia não ter que ter feito isso.
    e) Tenho tanto medo de cristãos como de muçulmanos. Tenho medo de fanáticos.
    f) Por medo entenda-se receio. Sinto o mesmo em relação aos Estados Unidos e a China. Não fico acordado à noite por causa disso.
    g) Não me considero nem extremista nem fundamentalista. Isso não é desculpa, no entanto, para não ser firme.
    h) Que uma religião (construção do foro espiritual) dite o que uma pessoa deve comer só me provoca riso. Tento controlar-me mas é difícil. Já tentei ser vegetariano (não por motivos religiosos, nem de saúde — por pena dos bichinhos, e porque a carne crua me mete um nojo horrível, especialmente o cheiro) mas não aguentei porque gosto de carne e não a como crua. Não quero desistir dum bom bife com batatas fritas, nem de me fazer esquisito quando sou convidado para um jantar. É uma situação muito constrangedora recusar uma refeição deliciosa, de uma pessoa bem intencionada, porque tem lá um bichinho morto. As plantas, se pudessem, também fugiam e gritavam para não morrer.

    Bem, estou cansado, vou dormir, mas pelo menos já tenho acentos :)

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