O Merecido Regresso dos Paus

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

20 Paus (dos antigos)

Quando nasci, era o escudo. O escudo era a moeda Portuguesa, sucessora do rei e ainda portadora de alguma da sua História, tanto que a minha bisavó Rita sempre continuou a fazer a conversão do escudo, “para a moeda antiga”.

Mas praticamente ninguém pagava com Escudos. Não. Nós pagávamos com paus e com contos. Contos… de Reis, claro.

Vejamos. Cinco escudos eram cinco mil reis, um dinheirão, quando eu era miúdo e ia ao pão com 2$50 – dois escudos e cinquenta centavos – ou, como toda a gente dizia: “dois e quinhentos”. Dois e quinhentos? Pois, dois mil e quinhentos reis.

Mas, embora houvesse ainda alguma referência aos milhares de reis, a verdade é que a maioria das pessoas usava paus. Entre 5 e 1000 escudos, usávamos paus. Cinco paus, vinte paus, cinquenta paus. Quinhentos paus já era uma nota porreira de se ter e mil paus era o limite mínimo para usar contos.

A regra era simples: a maioria das pessoas usava “mil paus” e os drogados usavam “um conto”. Porque a droga compra-se aos contos, claro. Bom, era mais ou menos assim.

Daí para cima, era aos contos. Dez contos, cinquenta contos, cem contos, ou seja 10, 50 ou 100 mil escudos. E depois, pronto, mil contos. Um milhão de escudos. Uma coisa que um gajo já nem conseguia imaginar. Hoje em dia, são 5 mil euros. É muito, mas não é uma reforma vitalícia.

Depois o escudo morreu e deu lugar aos tais euros. Ou aérios, ou euricos, ou éros… olha, ou bardamerda, que a palavra “euro” não soa nada bem. Mas o que fazer?

Não podíamos fazer nada. Era euro e soava mal e não havia forma de dar a volta àquilo. E o escudo estava morto, acabado de enterrar, estávamos em período de luto pelos paus e pelos contos.

E assim ficámos durante uns anos. Esperámos. Como povo respeitador que somos, demos uns anos à coisa e agora, que tempo suficiente passou, já sentimos que os paus podem ser usados novamente.

É como ter uma importante senhora na família, a Senhora Dona Amélia que muito boa influência teve na árvore genealógica e que, volvida uma ou duas gerações, vem dar nome a uma pimpolha recém nascida no século seguinte.

É por isso que agora, 50 euros já podem ser 50 paus. Quinhentos paus é uma nota ainda mais apetecível de ter no bolso do que no tempo do escudo e mil paus é o salário médio em Portugal. Tudo muda, mas tudo fica confortavelmente na mesma.

Agora só resta saber se alguma vez um milhão de euros serão mil contos outra vez.

 

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