Porque fui

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Ontem, dia 15 de Setembro, fui à primeira manifestação da minha vida. Imagino que tenha andado por umas durante o PREC, mas não me lembro.

Não fui chamar nomes ao governo, não fui protestar contra a troika, fui, porque simplesmente tinha que ir. Senti-me compelido a ir e aprendi uma coisa, aprendi o valor destes acontecimentos. Quando são assim, organizados por “ninguém”, sem partidos, sem sindicatos, sem uma agenda política definitiva, são a forma que temos de falar ao país. Nós, cidadãos comuns, não temos tempo de antena, não somos entrevistados por jornalistas no telejornal, não escrevemos editoriais em semanários; nós, cidadãos comuns, não temos outra maneira de passar a nossa mensagem.
Em Lisboa, parece que foram 500 mil pessoas. E eu não gosto muito de pessoas, mas senti-me bem ali. Andámos e pouco mais, deslocámos-nos do ponto A para o ponto B. Alguns gritaram, cantaram, alguns levaram cartazes. Alguns, claro, não perceberão nada do que se passa e acharão que a solução para o país é apenas deixar andar e pronto. Outros estarão mais informados ou terão melhor conhecimento para achar que tem que se fazer algo, mas que esse algo tem que ser outro algo que não o que o governo está a fazer.
Eu fui porque achei que a mensagem tinha que ser grande, tinha que se fazer ouvir e a única maneira para eu contribuir para isso, era ir. E levei um pedaço da mensagem, da minha mensagem. Eu não digo Passos gatuno, governo fora, nem sequer que se lixe a troika. Eu digo chega deste país, chega deste sistema partidário que se governa a si mesmo, antes de governar quem o sustenta.
Para mim, o essencial do que se passa em Portugal, é que fomos longe demais depressa demais. Quisemos demais – estádios, estradas, mega-eventos desportivos e culturais, condomínios fechados, carros potentes, férias e mais – quisemos tudo e deixámos que quem mais tinha a ganhar com isso, ganhasse. Que se fizessem contratos brutais, obras inacreditáveis e não só se gastasse o dinheiro necessário para as executar, mas o dobro, o triplo, vinte vezes mais.
Somos, há tempo demais, governados por um punhado de pequenas organizações cujos principais objectivos incluem o bem estar e sucesso pessoal dos seus membros, bem como a entre-ajuda dos mesmos. Organizações, chamadas partidos políticos, que pouco ou nada realmente se importam com os portugueses e que portanto gerem o país dia a dia, sem plano, sem responsabilidade, sem consequências para si próprios. Essas, ficam para nós.
Eu quero um país novo. Quero um país governado por pessoas cujo objectivo seja governar o país para que este tenha sucesso, como se governa uma empresa para que esta seja lucrativa. Quero pessoas que sejam competentes naquilo que fazem, que governem em áreas em que são especialistas e que defendam a sua equipa, nós, perante todas as outras: alemães, holandeses, chineses, seja o que for, troika ou sem troika.
Não fui lá ontem para que o governo caia e eu vote no PS. Não votarei no PS, não votarei no PCP, nem no BE, não votarei nos partidos actualmente no governo e não consigo imaginar, para já, um futuro em que um partido político volte a receber o meu voto. Eles são o que está errado na liderança do nosso país neste momento e não imagino que outro sistema surja entretanto.
Agora, espero que o governo se aguente, mas que reveja as suas medidas, que pense melhor, que se lembre não só dos mercados e do trabalho dantesco que tem pela frente (que acredito que seja difícil), mas dos cidadãos do país que até acho que são malta para aguentar uns tempos se lhes mostrarem que a seguir vem algo melhor, se lhes mostrarem o plano. Onde está o plano? Pedro Passos Coelho, onde está o teu plano de negócios para Portugal?

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13 comentários a “Porque fui”

  1. Zélia Couto e Santos says:

    É isso mesmo!!!!! Não é preciso gritar gatunos, nós queremos mesmo é um PLANO DE AÇÂO!

  2. Pedro Cruz says:

    Pedro, partilhei este teu post no facebook porque diszes nele o que penso exactamente de tudo isto. As tuas razões foram as minhas razões… Obrigado.

  3. Eu percebo tudo o que dizes, e até concordo. Só há um pequeno problema:

    “Quero um país governado por pessoas cujo objectivo é governar o país para que este tenha sucesso, como se governa uma empresa para que esta seja lucrativa.”

    Não conheço nenhuma empresa que seja uma democracia :)

    • Não serão exactamente democracias, mas Conselhos de administração são eleitos pelos accionistas e podem ser removidos por eles se forem incompetentes ou não defenderem adequadamente os interesses da empresa. Não é uma comparação directa, é uma metáfora, mas é uma que pode funcionar, acho eu.

      • Joao A. says:

        Sim. Os concelhos de adminsitração são eleitos pelos accionistas. Os accionistas são um número restrito de pessoas que são os donos das empresas.

        Transpondo: quais são os donos de Portugal? Já houve um documentário com esse título, que respondia a essa questão.

        E, na verdade, o Governo já faz precisamente isso: defende os interesses dessas pessoas ou desses grupos.

        Defende os interesses e responde perante os donos de Portugal.

        O Governo faz precisamente isso: comporta-se como um conselho de administração de uma empresa e defende os interesses dos accionistas, criando valor para os seus investimentos.

        • OK, eu também posso pegar em qualquer ideia, restringi-la e remover-lhe o significado original.

          O que eu quero dizer, evidentemente, é que era interessante termos um conselho de administração em que todos os cidadãos fossem accionistas, como me parece claro.

  4. É exactamente aquilo que penso sobre estas manifestações e a sua real importância, não se trata de mandar um governo abaixo (como dizes, não faz sentido) mas sim de marcar uma posição e fazer ver a quem de direito que não é só caçar votos e depois fazer como quiserem.

    Senti nojo quando no meio destas manifestações apartidárias, vi o Louçã a dar uma entrevista no Porto no meio da manifestação, passando a mensagem como se a manifestação também fosse do BE. Triste, muito triste.

  5. arakno says:

    Muito de acordo com o k escreveste.
    Acrescento que é o preço a pagar por “acordar” tarde demais e/ou ter uma espécie de preconceito para com manifs.
    Sim, há mt gente k não vai a manifs pq tem essa ideia preconcebida de k é local de proliferação de gente xunga e de freaks k não querem trabalhar, esquecendo-se por completo de que a sua própria participação determina ela também o tom da manif.

    Confesso que tb não sou grande fã de ajuntamentos e de carneiradas (incluo aki “optimus alive’s” ou lá o k é), mas abro uma excepção quando sinto que os meus direitos, ou os do meu semelhante, estão a ser espezinhados. Não consigo ficar sentado. Acho que é isso.

    Não quero que este comentário fique com um cunho do velho-do-restelo , do “eu bem avisei”, até porque nem te conheço e parece k estou a fazer um ataque pessoal o que seria no mínimo, absurdo.

    Mas folgo muito em saber k fizeste esse esforço dantesco pra sair do confortável sofá e espero k isso se repita muitas vezes mais. No entanto, também sei que não basta andar uns kilometros pra apagar a mancha de corrupção que teima em não sair de governo em governo. Só que infelizmente isto não vai lá só com posts, tem de ser com uma tomada de posição activa na sociedade, quanto mais não seja, aprender a respeitar as vozes k se levantam, pq nunca se sabe quando é que a nossa se junta ao coro…

    abrçs

  6. Rita says:

    Concordo e tenho andado a dizer que uma medida importante é avançar com reforma eleitoral. Isto como está tem que acabar. Não temos verdadeira representatividade e, consequentemente, não temos transparência ou responsabilidade na governação. Se o governo cair e houver eleições sinceramente não sei que fazer! Não temos verdadeiras alternativas! Precisamos de um sistema que, bom, pode ter partidos se isso ajuda a organizar, mas que seja um sistema que responsabiliza e exija responsabilidade a quem governa; um sistema que dificulte carreiras políticas; um sistema em que, quem for eleito pelos cidadãos se sinta compelido a cumprir com o serviço público a que se dispôs – velar pelos interesses da sociedade. Tenho algumas sugestões de modelos a investigar (e.g., Neo-Zelandês).

    Só assim vamos lá!

Responder a Rita

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