iTunes Match

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

Há uns anos atrás, participei numas sessões de brainstorming e quando chegou a minha vez de mandar uns bitaites disse que o que eu queria era um sistema que me permitisse ter a minha música toda num servidor, permitindo-me depois ouvi-la em qualquer lugar, através de computadores ligados à net, ou mesmo, talvez no telemóvel. Na altura, não existiam iPhones, nem iPads, nem nada disso.

Não quero com isto dizer que eu já tinha inventado o iTunes Match, quero apenas dizer que há muito tempo queria um serviço assim. Como, desconfio, a maioria das pessoas que cruzam um amor por gadgets com um amor por música. A ideia era, portanto, óbvia, mas a execução nem tanto.

Passaram os anos necessários, evoluíram as coisas que tinham que evoluir e agora há inúmeros serviços que permitem ouvir música online em streaming e há o iTunes Match, para quem preza a sua colecção de música acima de tudo.
O serviço chegou há cerca de uma semana a Portugal e eu aderi imediatamente. Custa 25 euros por ano e tem um limite de 25 mil músicas.

O processo é muito simples, desde que não corra mal (e pode correr, mas há soluções): Activa-se o serviço, para o que é necessária uma conta na iTunes Store. Paga-se os 25 euros que são renováveis automaticamente ao fim de um ano, sendo que se tem 24 horas antes da renovação para cancelar a subscrição. E o iTunes começa o processo: primeiro lê toda a biblioteca de música (meloteca?), e analisa-a – creio que usa o algoritmo do Genius – depois, envia os resultados para a Apple e compara-os com a música que existe na Store, finalmente faz o Match e termina fazendo upload das músicas que não sejam identificadas.

O resultado final é o seguinte:

  • Música que exista na Store fica disponível no iCloud para ouvir em qualquer Apple device, iOS ou Mac OS, até um limite de 10 aparelhos (devidamente identificados com o login que fez o Match);
  • Música que não exista na iTunes Store, é carregada para o iCloud e fica igualmente disponível;
  • Música muito curta (menos de 5 segundos, creio), ou codificada com um bitrate muito baixo ou variável (VBR), poderá ficar “ineligible”; alguns destes casos são solúveis (já lá vamos).

Vantagens

O serviço tem, para mim, três grandes vantagens:

Consolidação das minhas colecções de música.

Durante anos, geri duas colecções, uma em casa e outra no escritório, o que era uma trabalheira e acarretava sempre a frustração de me apetecer ouvir determinado álbum que acabava por constatar não estar na colecção presente, mas sim na outra.

Com o Match, passei a ter uma só colecção e agora posso dedicar-me a organizá-la e saber que as alterações se reflectem em todo o lado.

Substituição de velhos ficheiros de menor qualidade por versões legais em AAC a 256 kb

Quer seja música ripada doa nossos próprios CDs que já o foram há muitos anos, quando o armazenamento não se media em gigabytes e quando optar por 128 kb era uma questão de gestão desse espaço, quer sejam versões sacadas da net e codificadas por sabe-se lá quem e com que configurações, a verdade é que, tirando os tarados do FLAC, muita gente tem muita música codificada com pouca qualidade e/ou de origem duvidosa.

Com o Match é simples: nas opções de view, liga-se o ‘iCloud Status’ e ficamos com uma coluna que nos diz se a música está matched ou uploaded (e mais uns estados, já lá vamos). Uploaded significa que a faixa não existe na Store ou não foi identificada e por isso, o iTunes fez upload da mesma para o iCloud.

Matched é o que nos interessa. Isto significa que a faixa existe na Store e, como tal, podemos obter a versão oficial de 256 kb. Para isso, basta fazer delete da faixa no iTunes, evidentemente deixando desmarcada a checkbox que pergunta se também queremos apagá-la do iCloud. Depois dizemos que queremos apagar o ficheiro.

A faixa fica no iTunes, mas já não está no disco. Em vez disso, está no iCloud e surge com um ícone de download à frente. Click nesse ícone e já está: a faixa fica do nosso lado. Podemos cancelar o serviço que as faixas assim obtidas continuam a ser nossas. Atenção à tentação de partilhar estas faixas: o nosso nome e email ficam nas meta tags.

Só para ser absolutamente claro: sim, isto significa que, por 25 euros por ano, podemos legalizar toda a música pirata que possamos eventualmente ter no nosso disco e que tenha correspondência na iTunes Store. Eu não tenho música pirata, mas tenho amigos que têm e isso é com cada um.

Portabilidade da minha colecção de música

Esta última vantagem tem-se mostrado algo escorregadia. É, de facto, uma vantagem: no iPad, tenho zero espaço ocupado com música e no entanto, tenho acesso a mais de 13 mil faixas da minha colecção privada. Como estou em Wi-Fi, posso por música a tocar quando e onde me apetecer, a mesma é lida do iCloud e tocada no meu dispositivo numa de duas versões: se é ‘Matched’, toca a versão 256 kbit original da Store, se é ‘uploaded’, toca a versão que foi enviada para os servidores da Apple pelo Match.

A parte escorregadia tem sido no iPhone quando quero desligar a rede para não consumir o meu plano de dados. Basicamente, escolho uma playlist e faço “download all” em Wi-Fi, depois, nas opções do Match, desligo o ‘use cellular network’ e o ‘show all songs’ e fico apenas com as faixas de que fiz download visíveis na app de música. No entanto, não sei porquê, muitas vezes a app de música engasga completamente e pára de tocar. Isto acontece, sobretudo, quando tenho o iPhone montado no carro. Parece-me que, embora a app esconda a música que só está no iCloud, na verdade, mostra a música toda ao auto-rádio e depois tenta tocar alguma da música que não está no dispositivo e, como não tem rede, morre.

Com as opções de rede e mostrar toda a música ligadas, o Match funciona na perfeição no iPhone, desde que haja rede 3G. Tal como no Wi-Fi, toda a colecção de música fica disponível para ouvir no telefone em qualquer lugar. Mas, claro, consome dados móveis.

Como prezo muito a música durante as minhas viagens de transportes públicos, desisti de usar o Match no iPhone e voltei ao velho método de fazer sync de uma playlist específica para o dispositivo, para ouvir offline.

Espero que isto venha a ser melhorado para voltar a usar no iPhone. Até lá, entre o computador do escritório e o de casa, bem como o iPad, o iTunes Match está a valer cada cêntimo dos 25 euros por ano que se pagam. Com a grande vantagem de que, se me apetecer desistir, ainda fico com as versões de melhor qualidade de muita da minha música.

Algumas dicas

Crash do iTunes durante o Match

No Mac, o Match correu muito bem, mas no Windows, onde tinha uma colecção de música mais antiga, com vários ficheiros “estranhos”, a coisa correu pior. O iTunes ficava a mastigar durante horas e depois crashava, obrigando a recomeçar o processo do início. Este problema é reportado por várias pessoas nos fóruns da Apple, quer em Windows, quer em Mac, pelo que é mesmo uma dificuldade do Match a lidar com alguns ficheiros.

O problema é saber que ficheiros. No meu caso, resolvi o problema fazendo o seguinte: corri o iTunes várias vezes, começando o processo de Match do início de cada vez que havia um crash. De cada vez que corria, o Match lá fazia upload de mais umas quantas das minhas faixas que não tinham correspondência com a Store. Com muita paciência, repeti este processo ao longo de um fim de semana e de cada vez faltavam menos faixas. Até que chegou a um ponto em que só faltavam 7 faixas e o iTunes não passava dali.

Nessa altura, matei o iTunes, corri de novo o Match (o processo corre sempre todo desde o início, o que é uma seca), mas interrompi-o, mesmo quando estava prestes a começar o passo 3 – upload. É uma questão de atenção e rapidez no click, mas eu consegui à primeira.

O Match pára, mas a colecção de música fica classificada. Vai-se então a view > view options e liga-se a coluna ‘iCloud Status’, ordena-se a música por esta coluna e vai-se à procura das faixas que dizem error. No meu caso, tinha um mix de dubstep com uma 1h25m. Como era um mix de um álbum que tinha em faixas separadas, apaguei-a e pronto. Daí para a frente o Match ficou ligado no iTunes sem mais problemas.

Ineligible Tracks e faixas que deviam ser Matched, mas estão uploaded

Algumas faixas não serão aceites pelo Match e ficarão marcadas como Ineligible. Na esmagadora maioria dos casos, isto deve-se a um bitrate muito baixo ou a VBR (variable bit rate). A solução é simples: converte-se a faixa para um AAC de 128 kb, ficando-se assim com duas versões da mesma faixa, depois, apaga-se a original e na nova versão, right-click > add to iCloud. Muitas vezes, o primeiro resultado é que o iCloud Status fica ‘removed’, mas repetindo o add to iCloud, das duas uma: ou passa a uploaded, ou matched. Se for matched, podemos novamente apagar a faixa de 128 kbit e, como descrevi acima, fazer download da versão 256.

Finalmente, no meio de alguns álbuns, notarão que está tudo matched, menos uma faixa ou duas. Este é conhecido como o Bathroom Window bug, já que um caso facilmente reproduzível por muita gente é no álbum Abbey Road, dos Beatles, em que todo o álbum é matched, mas a faixa She Came In Through The Bathroom Window é uploaded.

Ainda não se conhece solução para este problema, que acontece com a maioria – mas não todas – as cópias deste disco.

Em suma: para quem tem música espalhada por vários sítios e gosta de ter uma biblioteca bem organizada, para quem gosta de ouvir a mesma música em todo o lado e tem vários dispositivos iOS e/ou iTunes, o iTunes Match vale a pena.

Para quem tem pouca música, ou apenas um dispositivo com iTunes ou quem prefere um serviço de subscrição de música tipo rádio – como o Music Box – apologies to @celso :), ou para quem tenha mais de 25 mil músicas que pretenda sincronizar (thanks, Eduardo), o iTunes Match não vale a pena.

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18 comentários a “iTunes Match”

  1. Carlos Fonseca says:

    E agora consegues sincronizar o iPhone em qualquer dos dois computadores?

  2. Eduardo says:

    Para além dos “tarados do FLAC” entre os quais me incluo (embora no meu caso seja tarado do ALAC (Apple Lossless), há mais gente para quem o serviço não serve. Os que têm mais de 25000 músicas. Eu tenho o dobro disso

  3. Ainda agora adicionei um álbum novo que comprei à biblioteca do iTunes. 2 minutos depois tinha as músicas disponíveis no iPhone e no iPad. Que maravilha!

  4. Eduardo says:

    Ainda há o Google Music. Que no fundo faz quase tudo isto com um limite de 20.000 músicas e… FREE :) A grande diferença é o sincronismo bilateral (passe a redundância)

  5. ehehehe li o post todo (não significa que o tenha percebido todo), mas logo aloi ao princípio percebi que não era serviço que me interessasse….. só no fim vim a referência ao Eduardo. E para quem tem mais de 25.000 músicas?

    É que 25.000 músicas, nos dias que correm (maior produção, maior capacidade de aquisição) não é assim tão difícil de ter.

    Eu acho que a tua geração (vá, mais uma, abaixo da tua) ainda adoptaá este tipo de serviços, mas a miudagem prefere as vantagens de serviços como o Spotify ou o Music Box (assim que tenham tempo para os compreender).

    • :-) gostas muito de me tratar por “a tua geração”, como se tivéssemos 10 anos de diferença.

      O Match e o Spotify ou Musicbox são coisas completamente diferentes, é como comparar um iPad com um Kindle. Sim, dão ambos para ler livros, mas não são o mesmo tipo de dispositivo.

      Quanto às 25 mil músicas, permite-me discordar, mas ainda só me cruzei com duas pessoas cujo problema era terem mais de 25 mil músicas.

      Eu tenho discografias inteiras, de vários artistas, de várias épocas e tenho 13 mil. Claro que não tenho todos os meus CDs ripados, mas sinceramente, quem é que ouve 50 mil músicas?

      E sou capaz de apostar que as gerações mais jovens ainda menos música têm.

      • Eduardo says:

        “quem é que ouve 50 mil músicas”

        Ninguém. Eu não ouvi ainda as minhas 50000. Tenho uma playlist das que me apetece ouvir e essa playlist muda com muita frequência. Quantas vezes não fui buscar ao baú (leia-se long tail das 50000) coisas que já não me lembrava e que por uma razão ou outra redescobri. Não digo que venha a ouvir todas mas elas estão lá por alguma razão.
        O argumento do “quem ouve 50.000 músicas” aplica-se a 13.000, 10.000, 5000 right? :)

        • Sim, claro que sim. Bom, se calhar passei a ideia que recomendo o Match a toda a gente, mas nem é o caso. Para mim é muito bom, diria que se ajusta na perfeição às minhas necessidades, mas não é um serviço para toda a gente. Aliás, basta teres uma colecção de música ripada e organizada por ti para o Match já não ter servir para nada.
          Mas kudos pelas 50 mil. Eu considero-me apreciador de música e acho que mesmo que ripasse os meus CDs todos, não chegava a 50k.

  6. Os mais novos têm menos música porque têm necesidades diferentes. Para eles a posse da coisa não tem tanta importância como para nós. Para eles é mais importante o usufruto.

    E nós somos de gerações diferentes, independentemente da idade. Não vimos os mesmos desenhos animados quando éramos miúdos, e não ouvimos a mesma música na adolescência :)

  7. Isso quer dizer que se eu tiver comprado música algures, e não tiver guardado o recibo, isto vai sacá-la como se eu a tivesse comprado ontem no iTunes?

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