Porque votava nulo

Publicado em , por Pedro Couto e Santos

O Pedro Timóteo perguntou, nos comentários do meu post sobre o Sócrates e as eleições, porque votara eu nulo ou branco durante os últimos anos e eu comecei a responder-lhe, mas o comentário ia tão extenso que decidi promovê-lo a post.

Aqui vai:

A minha motivação para começar a votar nulo foi o estaladão da realidade, sob a forma não só de um IRC absolutamente absurdo para a minha micro-empresa de 4 pessoas, como também dessa magnífica invenção o pagamento por conta e havendo maneira de não pagar este por evidente falta de fundos (tipo, dinheiro para pagar salários e rendas e contas), o pagamento ‘especial’ por conta ao qual não se pode escapar.

Quando tudo apontava para um futuro brilhante – estando a minha empresa a safar-se bem, mesmo apesar do fim da .com bubble – fui confrontado com esta realidade e senti uma raiva indescritível. Um pouco contra mim mesmo, por ser novo e não saber o suficiente para evitar perder metade do dinheiro que tinha tão arduamente ganho no ano anterior (o que, em Portugal acho que implica ser aldrabão e fugir ao fisco, quem me manda ser honesto?) e muito contra o Estado, contra a maneira como as coisas se fazem, contra a frieza de um sistema que não distingue quatro jovens a tentar fazer pela vida de 10 ou 20 magnatas a dirigir impérios económicos.

Passei a votar em branco porque acredito na Democracia e por isso, para mim, não votar não era opção e os meus votos inúteis eram uma forma de expressar a minha raiva e desilusão por, basicamente, ter visto a resposta a “o que queres fazer quando fores grande”, esmagada assim de um só golpe.

Não sei quem:

a) acabou com o regime especial de micro empresas que permitia que estas pagassem significativamente menos IRC que as outras;

b) estabeleceu uma taxa de IRC perto dos 40%;

c) inventou uma coisa fantástica chamada “derrama” que é um pagamento de mais 2 ou 3 pontos percentuais em cima do IRC e que vai para a Autarquia onde a empresa tem sede;

d) decidiu que o IRC pago sobre os lucros das empresas independentemente deste ser re-investido (só um ano depois é que este investimento tem impacto e entretanto, onde está o dinheiro para manter a empresa a funcionar?);

e) inventou o pagamento por conta, uma medida típica de fazer pagar o justo pelo pecador – como muita gente foge ao fisco, obriga-se toda a gente a pagar pré-impostos sobre um valor de lucro que o Estado imagina que a empresa vai fazer (depois se não fizer, logo se devolve o dinheiro, mas até lá… está do outro lado);

f) inventou o pagamento especial por conta, porque o anterior podia ser “perdoado”, mediante um pedido especial por, basicamente, a empresa estar à rasca; este, o especial, é obrigatório e se a empresa apresentar prejuízo pode reaver o pagamento… mediante processo burocrático complicado e submetendo-se a uma inspecção fiscal – isto é, somos castigados e tratados com desconfiança por requerermos que o Estado nos devolva dinheiro que nos pertence;

g) implementou, em Portugal, o IVA e a sua forma de pagamento completamente absurda em que as empresas são obrigadas a entregar ao Estado o valor de IVA que eventualmente irão receber e não que já receberam, visto que este imposto é cobrado sobre facturas emitidas e não sobre pagamentos efectivamente recebidos o que faz com que muitas empresas tenham que pagar o IVA do seu bolso (ficando coisas como subsídios de férias e mesmo salários ou pagamentos a fornecedores em atraso), uma vez que os prazos de pagamento entre empresas é absurdo (60, 90, 180 dias…).

Quando percebi todas estas coisas, tarde demais, senti-me num sistema feudal. Incapaz e impotente contra o Senhor. Obrigado a pagar para trabalhar, a pagar para fazer negócio nas Suas terras, a pagar para simplesmente ter sede em determinado Ducado.

Não sabia quem tinha feito nada disto, quem tinha feito estas leis – pareceu-me que tudo isto só podia ser produto de todos os partidos, uns por terem feito, outros por terem deixado de fazer. E portanto… deixei de votar em qualquer deles.

Ingenuidade? Certamente. Mas tinha 25 anos na altura, o que se podia esperar? Foi falta de jeito minha e pus-me mesmo a jeito para levar a mocada. Mas para mim, tudo o que disse acima continua válido; a mocada é grande demais.

Acrescento que a questão do IVA é de tal maneira imbecil que quase me faz duvidar da minha decisão de votar no PS. Segundo o movimento cívico “IVA com recibo“, sobre a discussão em plenário da sua proposta, em Julho passado:

Todos os grupos parlamentares da oposição estão assim dispostos a trabalhar para uma alteração da lei existente. Apenas o PS, cujo governo tem maioria parlamentar, afirma através do seu deputado Vitor Baptista:, «Para além de o IVA não ser uma razão dos problema que as PME atravessam, é uma pura demagogia política», afirmou. Aquando do encontro em 21 de Maio com o Movimento, já o deputado do PS dissera que «as empresas deveriam procurar vender apenas para aquelas que pagam atempadamente»

Este deputado não pode estar a falar a sério: ou é ignorante ou está a cumprir agenda. Dzer que o IVA não é problema para as PME é mau e nem é preciso pensar muito: Se eu arranjar um cliente em Janeiro e efectuar o trabalho durante esse mês, passando uma factura de 50 mil euros, tenho que cobrar ainda 10 mil euros de IVA, num total de 60 mil; chegado, creio, a 15 de Maio, tenho que ter entregue ao Estado os 10 mil euros. Imaginemos que o cliente ainda não me pagou, nem pretende pagar tão cedo. Que eu tenho uma empresa de 5 pessoas, todas as quais estiveram envolvidas no projecto porque um trabalho de 50 mil euros assim o exige e mesmo que tenha surgido mais um ou dois clientes neste período, dificilmente os projectos estarão concluídos ou sequer pagos (com sorte, facturados, o que significa mais IVA). Eu chego ao fim do primeiro trimestre, sem ter recebido um tostão dos meus clientes – não é invulgar – mas tendo que entregar 10 ou mais mil euros ao Estado.

De onde vem esse dinheiro? Talvez dos salários que os meus funcionários não vão poder receber.

Em segundo lugar, sugerir que as empresas apenas trabalhem para clientes que pagam atempadamente é completamente absurdo! O que é suposto uma pequena empresa fazer? Adivinhar? Pagar a uma consultora para investigar o cliente de antemão? Desistir de um trabalho que pode viabilizar a empresa por 3 ou 4 meses só porque o pagamento em vez de chegar amanhã, chega em Outubro? É de facto, um fartar de rir… e depois admiram-se de eu votar nulo.

O Estado devia proteger as empresas mais pequenas, geralmente são locais, captam pequenos grupos de pessoas e dão-lhes emprego; quando as empresas lidam em negócios de novas tecnologias devem ser ainda mais cuidadas. Não falo em protecção activa do Estado, não acredito em subsídios e ajudas directas mas é tão simples como:

  • Criar regimes especiais para micro empresas ou empresas muito recentes; uma carência de 5 anos ou um valor crescente ao longo de um período idêntico era uma grande ajuda – cinco anos não é muito para o Estado, mas para um grupo de pessoas a tentar montar um negócio pode significar a diferença entre ser ignorante e já ter aprendido umas coisas sobre como melhor a gerir
  • Acabar completamente com os pagamentos por conta e especiais por conta para este tipo de empresas. Tais pagamentos não passam de um castigo – apliquem-no a empresas que chegam ao fim do primeiro trimestre com milhões de lucros… não a empresas que chegam ao fim do ano sem saber o que são subsídios de natal e férias, seguros de saúde ou complementos de refeição
  • Alterar a forma de pagamento do IVA. Este imposto deve ser sobre o recibo e não sobre a factura; este assunto então é crasso: qualquer ser humano com um mínimo de capacidade cerebral compreende isto, portanto o Governo e os Deputados compreendem isto – negam-se a implementá-lo porque sabem que provavelmente receberiam muito menos IVA, tendo em conta a vergonha que são os atrasos de pagamentos entre empresas. É daquelas situações típicas que faz apetecer deixar de votar: estão claramente a gozar com a nossa cara quando dizem que a medida não é viável.
  • Montar um sistema de acompanhamento das empresas que não as torne anónimas aos olhos do Estado. O Estado não sabe quem trabalha nas empresas, não sabe o que elas fazem e trata-as todas por igual, quando umas são claramente diferentes. Uma pequena empresa de ar-condicionado não é igual a uma pequena empresa de investigação científica. A primeira se calhar tem grande volume de negócio, especialmente no Verão, mas pode sofrer mais com desequilíbrios na economia, a outra tem muito mais dificuldade em fazer dinheiro porque não tem um produto de médio/grande consumo, mas uma vez bem financiada pode manter-se mais estável. Aos olhos do Estado, ambas são iguais.

Já lá vão mais de seis anos que não me meto nisto. A empresa existe ainda – nem sei bem como – e a Dee trabalha para a manter e todos os anos ficamos à rasca com o pagamento especial por conta porque temos muito pouca actividade e pouco volume de negócios mas continuamos a ter que entregar esta dádiva feudal, sem falha.

Como já não ando nisto há muito tempo, corrijam-me se algo do que está acima está incorrecto, mas porra… que vontade de não votar em ninguém que eu tenho!

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48 comentários a “Porque votava nulo”

  1. Whoa. Tenho 24 anos e fundei uma empresa há 3 com mais 3 amigos conhecidos no curso. Revejo-me em todo o post. Este post não devia ter esse título. Este post é um manifesto do “jovem empreendedor” em Portugal.

    Respondendo ao teu último parágrafo: a julgar pelo que tenho sentido na pele mantém-se tudo igual.

    Não tenho muito mais a dizer. You nailed it.

  2. Pedro,
    Nunca me revi tanto nas tuas palavaras como neste post.

    You made my day.

    Abraços.

  3. benjamim says:

    “mas porra… que vontade de não votar em ninguém que eu tenho!” é assim já somos 2.

  4. says:

    penso que foi a “dona” manuela ferreira leite que inventou a história do pagamento por conta e especial por conta. mas não tenho a certeza.

  5. E aqui vem mais um que concorda a 100%. Excelente texto!
    Se tivesse dinheiro dava-te um prémio (infelizmente não tenho porque o estado mo levou todo e estou com saldo negativo na conta bancária).

  6. Talvez possa ser acusado de ter pouca imaginação naquilo que vou escrever depois de ler os comentários mais acima:

    Não posso estar mais de acordo com o texto deste post. Parabéns, tudo o que dizes é um tiro em cheio e que é sentido por todos aqueles como tu/nós tentamos criar as nossas pequenas empresas.

    Cumprimentos

  7. Joao says:

    Este texto expõe muito bem o problema, e apresenta razões mais do que suficientes para que alguém que sinta na pele estas questões – ou que com elas simpatize mesmo que não as sinta directamente – decida votar branco ou mesmo nulo.

  8. Duarte says:

    Desculpem lá, votar em branco é giro e está na moda, mas neste momento já há partidos novos que, muito provavelmente, correspondem aos vossos desejos. Que tal fazerem um esforço e informarem-se das alternativas? Assim, estão só a praticar o desporto nacional: dizer mal (deja vu?).

    • Duarte, se leres o meu título diz “porque votava”, é passado… perguntaram-me porquê e eu expliquei. Agora já não voto branco e acho que é um desperdício de tempo.

    • Dextro says:

      Bem verdade, eu próprio já votei nas ultimas eleições num dos partidos “pequenos” precisamente por se mostrarem mais informados nas matérias que realmente interessam em vez de passarem a campanha inteira virados para o seu umbigo a insultarem outros partidos e a compararem o tamanho da obra feita (algo que precisa de lupas para ser visto muitas vezes).

  9. Duarte says:

    Sim, Pedro, eu reparei. Era mais para os outros comentadores/pessoas que ainda pensam votar em branco.

    • BUGabundo says:

      Se votar em Branco tirasse lugares da Bancada, ai sim é q fazia sentido o nosso voto de protesto.
      Havia de ser bonito ver la menos 40% dos palhaços q so sabem dar faltas, e aumentar o seu ordenado.

      Ai sim, eles vinham atras dos nossos votos, pois corriam o risco de ficarem colocados, ao contrario do q acontece hoje, em q as colocaçoes sao em funcao do numero de votos VALIDOS, n considerando os BRANCOS.
      Concordo q os NULOS n sejam contabilizados.
      Mas BRANCOS axo q sao uma forma de protesto com quem lá está/se candidadta

      • jorge says:

        poucos sabem , e eu só soube disso há muito pouco tempo , mas está previsto na lei eleitoral que , caso os votos BRANCOS sejam superiores a uma determinada percentagem (não sei o valor exacto , mas penso que ronda os 60-70%) as eleições são declaradas sem efeito e haveria outras eleições em que nenhum dos partidos que concorreu ás anteriores poderia participar.

        Isto é utopico mas seria lindo caso se viesse a concretizar um dia.

  10. PF says:

    Bem, não tinha conhecimento desta realidade! Não admira que os jovens não queriam ter empresas, aí está a explicação.

    No que diz respeito ao votar, diga-me lá uma coisa, em conversa de café ouvi falar em “mais de 50% dos votos for em branco as listas são anuladas e quem delas fazia parte não pode se pode candidatar novamente e terá de ser feito novas listas.”, mas cheira-me a conversa do diz que disse e sinceramente não pesquisei sobre o assunto.

    É assim ou nem por isso ?

    Nota: Um pouco fora do tema do artigo. :P

  11. B. Marto says:

    Concordo com a ideia do titulo deste post ser qualquer coisa como: “Manifesto do jovem empreendedor em Portugal”.

    Não estou informado das promessas dos programas dos partidos, mas vejam o caso de acções concretas (o caso do pagamento do IVA sobre o recibo ivacomrecibo.com): quando um grupo (grande) de pessoas se junta e tenta fazer qualquer coisa pelo bem da maior força económica da País, as PME’s, e o resultado é aquele que verificámos, então a solução é olharmos para os Partidos Políticos?

  12. Excelente texto. Espelha muitos dos problemas que temos ao começar uma pequena empresa.

  13. MV says:

    “Não sei quem:”….

    Um qualquer dos partidos socialistas existentes (todos) em que todos continuam a votar.

    É continuar a acreditar no socialismo.

    — MV

  14. Bruno Figueiredo says:

    Só uma achega, porque descobri isso há pouco tempo, mas pode-se pedir um relatório da saúde financeira de qualquer empresa por cerca de 10E.

    Quanto aos lucros serem tributados a 40% é bem verdade, mas no final do ano sempre se pode fazer pagamento de dividendos aos sócios, que acabam por ser tributados a uma taxa inferior.

  15. Bruno Figueiredo says:

    Já não me lembro do nome da empresa que faz isso, mas o relatório diz se tem dividas ao fisco, facturação nos anos anteriores, etc. Ao menos dá para ver com quem te vais meter.

    • Ah isso, não tinha percebido, pensei que estavas a sugerir uma auto-avaliação financeira. Pois, eu conheço esses serviços da Dun & Bradstreet porque, curiosamente, eles eram um dos meus melhores clientes.

      Eles sim, pagavam a tempo e horas :-)

  16. romudas says:

    Basicamente, neste país, toda a gente que queira uma certa independência profissional está lixadinho: eu pertenço à classe dos reciboverdianos e, a uma escala menor do que a tua, também tenho problemas assim. Não posso adoecer, ir de férias, nem direito a qualquer subsídio se esta aventura correr mal. Tenho que ofertar 25% do que ganho e se tiver um ano de trabalho excepcional lá tenho que entrar no regime de IVA e começar a cobrar mais 20% do que agora. O que acontece depois? Obviamente os meus clientes mandam-me bugiar porque já começo a esticar a corda.

    Talvez vote no Mourinho este ano.

    • Tudo isto que descrevi são malefícios do Socialismo? E a solução…?

      • MV says:

        “Tudo isto que descrevi são malefícios do Socialismo?”

        São. Os impostos são cobrados para “distribuir” pela sociedade, para garantir uma “segurança” social, para garantir a “igualdade”. E tu tens de amochar porque te deves sacrificar a favor da “sociedade”, porque o individuo serve a comunidade deve ter compaixão para com os pobrezinhos. E o individuo ter primazia é “imoral”: é o individualismo e o egoismo. Coisas más, claramente.

        “E a solução…?”

        Uma constituição liberal. Um sistema eleitoral com circulos uninominais. O direito aos partidos existirem, mas uma restricao aos mesmos serem monopolistas do poder. Um regime presidencialista. Uma sociedade baseada no mérito e na capacidade, com a respectiva remuneração pelos mesmos, sem penalizações dos mesmos em sede fiscal.

        Neoliberalismo e capitalismo afinal…

        Dá mau jeito? Temos pena. É uma questao de resolver as inconsistencias ideologicas (partidarias e pessoais). Mas querer uma sociedade socialista e depois queixar-se dos impostos é um contrasenso.

        — MV

        • Eu não quero uma sociedade socialista… Mas acho que precisava de outro post para escrever sobre o que eu acho que podia ser o Governo do país

        • Ele existe a utopia do socialismo e a utopia do neoliberalismo.

          O neoliberalismo selvagem que transcreves só ia causar revoltas sociais sangrentas. Eu prefiro viver com menos dinheiro numa paz e liberdade relativas, que rico confinado a um maravilhoso espaço físico que a qualquer momento iria ser invadido por pessoas desesperadas com fome.

          No meio está a virtude.

          • MV says:

            “Ele existe a utopia do socialismo e a utopia do neoliberalismo.”

            Sendo que as duas já foram mais ou menos testadas e os resultados estão à vista: preferias viver na Coreia do Norte ou nos EUA? Pois…

            “O neoliberalismo selvagem que transcreves”

            O facto de usares o epiteto “selvagem” numa vã tentativa de denegrir só demonstra a falta de argumentos.

            “ia causar revoltas sociais sangrentas. Eu prefiro viver com menos dinheiro numa paz e liberdade relativas, que rico confinado a um maravilhoso espaço físico”

            Estás no teu direito. Por isso pagas impostos e não bufas, estás no teu direito. E o meu direito de não querer ser roubado nem de participar para suportar essas “pessoas desesperadas”?

            ” que a qualquer momento iria ser invadido por pessoas desesperadas com fome.”

            Nada que não seja resolvido pelas leis, pela policia, pelos tribunais e, em ultima analise, por um pau grande ou uma caçadeira. Contra o inicio da força só se pode responder com força, não com sujeição. A isso chama-se chantagem.

            “No meio está a virtude.”

            Mais um lugar comum e um placebo. Não, no meio não está virtude nenhuma. Se eu quero preto e tu queres branco o cinzento não satisfaz nenhum dos dois.

            — MV

            • Nos EUA ainda à coisa de meses, quando o neoliberalismo deu pro torto, lá foi o Estado socorrer antes que a crise financeira se tornasse económica e social, portanto o neoliberalismo nunca foi testado ao extremo como outros regimes.

              O “Selvagem” advêm da falta de moralidade. Ainda à coisa de meses havia umas empresas de despedir funcionários devido aos prejuízos, mas os administradores recebiam prémios de boa gestão.

              Não pagavas impostos mas punhas os tribunais e a policia a defender os teus direitos de cidadão, e quem lhes pagava?

              Com força responde-se com força quando existe hipótese de vencer, se não é apenas e só um acto de estupidez.

              A virtude está entre o socialismo e o neoliberalismo, eu não quero o branco nem o preto, quero mesmo o cinzento porque pode coexistir Estado regulador e o liberalismo.

              • MV says:

                “Nos EUA ainda à coisa de meses, quando o neoliberalismo deu pro torto, lá foi o Estado socorrer ”

                Os EUA são um estado socialista. O socialismo falhou (a crise do subprime deveu-se à intervenção do Governos nos sistema financeiro introduzindo emprestimos para quem nao os podia pagar para casas que nao valiam o que era emprestado).

                Não serve de nada tentar resolver o problema com mais socialismo.

                “O “Selvagem” advêm da falta de moralidade. Ainda à coisa de meses havia umas empresas de despedir”

                Entao, quando muito, sao essas empresas que são “selvagens” (embora uma definição do que isso é fosse interessante de ouvir).
                Não é o liberalismo que é selvagem.

                “Não pagavas impostos mas punhas os tribunais e a policia a defender os teus direitos de cidadão, e quem lhes pagava?”

                Os individuos/empresas que litigam, através das taxas de justiça (que já existem). Quando muito através da cobrança de um nivel razoavel de impostos. A Justiça e a Segurança são as únicas razões morais para a intervenção do Estado e portanto justificam a cobrança de impostos. A usar na Justiça. Não em subsidios, rendimentos minimos, teatro e cinema, etc.

                “Com força responde-se com força quando existe hipótese de vencer, se não é apenas e só um acto de estupidez.”

                Nao. À força responde-se com força quando se é atacado, quando se tem principios e moral, quando se tem razão e se não se é um cobarde. Mesmo que se saiba que se vai perder. Se não não é um acto de estupidez: é um acto de cobardia e de cedencia à chantagem.

                “A virtude está entre o socialismo e o neoliberalismo,”

                Não, não está. O compromisso entre coisas opostas não tem virtude nenhuma. Não há compromisso entre o individualismo e o colectivismo. Ou o individuo tem primazia ou tem primazia a sociedade. Não dá para misturar.

                “eu não quero o branco nem o preto, quero mesmo o cinzento”

                Estás no teu direito, as opiniões são livres. Mas podem ser incoerentes.

                “porque pode coexistir Estado regulador e o liberalismo.”

                Claro que pode. Um Estado regulador é diferente de um Estado interventor. Um Estado socialista é um Estado interventor, por definição (ie. ataca os direitos do individuo a favor da sociedade). Um Estado liberal pode e deve ser regulador, ser árbitro.

                — MV

                • ““Ele existe a utopia do socialismo e a utopia do neoliberalismo.”

                  Sendo que as duas já foram mais ou menos testadas e os resultados estão à vista: preferias viver na Coreia do Norte ou nos EUA? Pois…”

                  Por estas tuas palavras pensei que tivesses associado os EUA ao neoliberalismo, erro meu.

                  “Entao, quando muito, sao essas empresas que são “selvagens” (embora uma definição do que isso é fosse interessante de ouvir).
                  Não é o liberalismo que é selvagem.”

                  Correcto, diria até que não são as empresas que são Selvagens, são as pessoas que as gerem motivadas pela ganancia não punida.

                  “A Justiça e a Segurança são as únicas razões morais para a intervenção do Estado e portanto justificam a cobrança de impostos.”

                  Acrescentava o ensino e saúde.

                  “Se não não é um acto de estupidez: é um acto de cobardia e de cedencia à chantagem.”

                  Presumo que não pagues impostos actualmente, porque tens razão, princípios e moral e não és cobarde para ceder às chantagens do fisco de que te irá penhorar seja o que for.

                  “Não, não está. O compromisso entre coisas opostas não tem virtude nenhuma. Não há compromisso entre o individualismo e o colectivismo. Ou o individuo tem primazia ou tem primazia a sociedade. Não dá para misturar.”

                  Uma ter primazia significa exactamente que ambas coexistem, e como tal tem de haver um compromisso em ambas.

                  “Claro que pode. Um Estado regulador é diferente de um Estado interventor. Um Estado socialista é um Estado interventor, por definição (ie. ataca os direitos do individuo a favor da sociedade). Um Estado liberal pode e deve ser regulador, ser árbitro”

                  Esta frase leva-me a concluir que se calhar não estamos tão distantes no papel do Estado na sociedade como possa parecer. No entanto um Estado Regulador também terá de intervir, e deve ser nessa intervenção que voltamos a divergir ;)

                  • MV says:

                    “Por estas tuas palavras pensei que tivesses associado os EUA ao neoliberalismo, erro meu.”

                    Associei no sentido de ser aquilo que se aproxima mais do liberalismo. Os EUA sao aquilo que se chama mixed economy. O meio termo, o cinzento.

                    “pessoas que as gerem motivadas pela ganancia não punida.”

                    Esta era a altura em que eu perguntava porque razao a ganancia deve ser punida, mas sinceramente nao me interessa a tua justificacao.

                    “Acrescentava o ensino e saúde.”

                    Acrescentas o que quiseres. Eu nao concordo.

                    “Presumo que não pagues impostos actualmente, porque tens razão, princípios e moral e não és cobarde para ceder às chantagens do fisco de que te irá penhorar seja o que for.”

                    Pago impostos porque é essa a lei que existe. Quando muito posso ir para tribunal protestar e defender-me contra a cobrança exagerada ou indevida. Ou posso pagar os impostos que acho que devo e depois defender-me contra qualquer acusação de fuga ao fisco. Em tribunal, seguindo a lei.

                    Um bando de artistas socialmente insatisfeitos que poe em causa a minha segurança, à margem da lei, é algo completamente diferente.

                    “Uma ter primazia significa exactamente que ambas coexistem, e como tal tem de haver um compromisso em ambas.”

                    Concordo. Neste momento o colectivismo ganha e há pouco compromisso com o individualismo.

                    “Esta frase leva-me a concluir que se calhar não estamos tão distantes no papel do Estado na sociedade como possa parecer. No entanto um Estado Regulador também terá de intervir, e deve ser nessa intervenção que voltamos a divergir ;)”

                    Um Estado regulador nao tem que intervir. Regula e a usa os tribunais para resolver as infraccoes às regulações. Chama-se a isso um Estado de Direito.

                    Mas sim, divergimos muito nas areas e no nivel de intervencao necessario.

                    — MV

                    • Maria says:

                      Tem toda a razão, M.V.
                      Estas pessoas queixam-se de pagar muitos impostos e depois defendem o socialismo. Que infantilidade. Ainda bem que há quem tenha paciência para tentar abrir os olhos a estes ignorantes.

                      Já agora, sou a favor da saúde pública e não concordo com todas as suas ideias.

                      Mas adorei a sua coragem para desmascarar estes idiotas.

                    • Eu adorei como o Mário apesar de defender ideias diferentes, foi decente e educado com toda a gente, já a Maria entra aqui e chama-nos todos de idiotas. Ainda bem que a sua ideia de sociedade não existe, porque já percebi que seria a elite e nós… o lixo.

  17. cmbelo says:

    Caro Pedro, lendo os teus dois últimos posts não posso deixar de me rever no teu percurso, como cidadão eleitor passei mais ou menos pelas mesmas fases que tu e mais ou menos pelos mesmos motivos, no entanto, tenho que te dizer, que desde as últimas eleições, que acordei comigo mesmo em ascender (ou regredir?) ao nível seguinte, isto é, deixar de votar branco, para passar a votar na melhor oportunidade de mudança… passo a explicar o meu raciocinio: considero que todos os candidatos a qualquer cargo público são potencialmente maus (o que considero como um dado adquirido…), apercebi-me entretanto que a convivência com o poder de qualquer politico só pode contribuir para o tornar ainda pior, pelo que a decisão de voto mais racional será a de dar oportunidade às “caras novas”, ignorando (com um minimo de bom-senso – sendo esta a parte subjectiva da questão…) desempenhos passados e promessas de desempenhos futuros.

    Aplicar esta minha regra às presente eleições legislativas, convenhamos que não é tarefa fácil: as oportunidades de mudança são tudo menos “caras novas” (veja-se, por exemplo, a cara da nossa estimada candiadata MFL), pelo que qualquer escolha seria sempre pela continuidade… que fazer neste caso? Atirar moeda ao ar na mesa de voto? Votar de novo em branco? Emigrar para um local remoto, virando as costas à sociedade e passando a viver como eremita, em convivio sã e harmonioso com a Natureza? Vida difícil esta a de cidadão eleitor!…

  18. Ricardo Martins says:

    poderia fazer aqui outro comentário extenso sobre o sucesso do novo programa de prevenção e combate a incêndios.. dado que vivo numa zona (proença-a-nova, distrito de castelo branco) que praticamente tem (tinha) ardido todos os anos e situa-se perto de um aerodromo e centro de canarinhos… http://is.gd/2ynkc e transmitir a minha experiencia no evoluir dos meios e técnicas de combate a incendios que outrora marcavam o meu dia a dia..

    deixo apenas esta questão…
    em que ano é que se lembram de portugal ter 4 Quatro aviões Canadair em Portugal apenas como meio de prevenção de um alerta amarelo por excesso de calor? e reforço a ideia de apenas como meio de prevenção.. e não já no pico de um incêncio de dias ou semanas…
    http://is.gd/2yncu

    pois…
    :)

    Cumprimentos
    Ricardo

    • Bem visto, recentemente comentava isso com a minha mulher… onde estão os incêndios este ano? Foi impressão minha ou houve poucos e os que houve foram rapidamente apagados?

      Suponho que quando arde, a culpa é do Governo, quando não arde foi porque o Verão foi ameno.

  19. Martim says:

    Pedro, falas do pagamento moroso entre empresas, mas e o pagamento do estado a empresas?? Quem devia dar o exemplo é quem pior faz! Tenho facturas com mais de 6 meses, pagaram-me uma recentemente com 2 anos. Uma Câmara Municipal. Mas o IVA, esse já o paguei faz tempo.. e os impostos todos e mais alguns. Este país é uma comédia. Faz parte dos meus planos sair daqui, apenas por causa das leis neste país.

    • Pedro Couto e Santos says:

      Sim, é verdade. Não falei disso porque nunca trabalhei para o Estado.

      Mas também é normal uma empresa privada dever dinheiro há anos.
      E repara que sair daqui pode não ser solução… em França, o Sarkozy anunciou como medida de mitigar os efeitos da crise que o Estado iria pagar algumas das suas dívidas as fornecedores…

  20. pachita says:

    Li esse post e concordo. Votei Sócrates e vou bisar.

    É o mesmo que peço a toda a gente que vive em Lisboa. Votem, mas não votem em branco. Não consigo sequer conceber o regresso do Santana Lopes em Lisboa.
    Seria o caos.

  21. Mais um gerente de micro-empresa que se revê em tudo o que dizes. Se não fosse gostar tanto desta terra, já tinha fugido daqui.

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