O país dos impostos

Publicado em , por macaco

Vou comprar casa dentro de duas semanas, aproximadamente. Fiquei agradavelmente surpreendido com o anúncio, por parte do Governo, do fim da Sisa, esse magnífico imposto que nos é cobrado quando adquirimos uma casa (uma casa, sabem, esse bem de segunda necessidade).

Qual não foi o meu espanto quando, logo na semana a seguir, um coro de protestos veementes, por parte dos autarcas do nosso país, se levantou contra o fim deste imposto.

As autarquias estão preocupadas com a redução dos seus orçamentos, por deixarem de receber a Sisa. O que é de uma hipocrisia fenomenal, porque, como toda a gente sabe:

1 – As autarquias guardam os seus orçamentos durante três anos e meio, para poderem ter dinheiro nos seis últimos meses de vigência dos seus mandatos, para que possam fazer obras magníficas, como rotundas, bancos de jardim e semáforos, para ganharem votos nas eleições que se aproximam.

2 – Toda a gente sabe que ninguém paga o Sisa verdadeiro pelas casas, porque toda a gente aldraba nas escrituras, para descer o preço dos imóveis e fugir ao Sisa

3 – Sem o Sisa, ou com um imposto subsituto de valor inferior, o mercado imobiliário, que neste momento se encontra reservado aos ricos que têm dinheiro para comprar casas de 50 mil contos como investimento especulativo, poderia receber um bem-vindo impulso e crescimento

4 – Com menos impostos, as pessoas que querem comprar casas para HABITAR (e não para alugar ou vender mais tarde fazendo LUCRO), terão mais hipóteses de o fazer, pois as desepesas acessórias descem e o processo fica facilitado.

Os Municipios dizem que querem o Sisa para poderem melhorar a qualidade de vida das suas populações, mas não parecem preocupar-se com o facto de as suas populações não conseguirem comprar casas, ou verem as suas dificuldades em fazê-lo aumentadas por uma série inacreditável de despesas acessórias, que podem fazer uma casa custar mais mil, dois ou três mil contos do que o preço de venda.

Para um Municipio mil contos não são nada. Claro. Para as pessoas que eles dizem querer proteger, são. Bastante.

Claro que o Estado no meio disto tudo também não deixa de ser o proverbial “porco”. Porque quer acabar com o Sisa, no meio de não se sabe bem o quê nem com que intenções. Ao mesmo tempo, quando queremos comprar um carro em Portugal, ficamos face a face com os preços mais altos da Europa, graças à aplicação de dois impostos, o Imposto Automóvel e o IVA… ainda por cima um sobre o outro.

E também vivemos num país em que o Estado usa o dinheiro dos impostos para gastar em estádios de futebol (são 10, para o Euro 2004), onde só os acessos rodoviários vão custar 80 milhões de euros. São 80 milhões de euros, para construir estradas para as pessoas poderem chegar ao estádio e ir à bola.

Afinal, o Futebol continua a justificar um investimento significativo por parte dos nossos governos. Talvez acabando com a Sisa, pudessem passar o orçamento dos estádios e respectivos acessos rodoviários às Câmaras Municipais e assim ficava toda a gente feliz.

Pergunto-me, se com todo este investimento no Futebol, o Governo terá alguns planos especiais para promover o Fado e a Família.

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